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quinta-feira, 2024/05/16  5:29
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Japão falhando no apoio aos jovens brasileiros

Como muitas comunidades no Japão rural, a cidade de Izumo, na província de Shimane, está lutando com uma população em declínio.

Japão falhando no apoio aos jovens brasileiros

Como muitas comunidades no Japão rural, a cidade de Izumo, na província de Shimane, está lutando com uma população em declínio.

Muitos de seus habitantes mais jovens se dirigem a grandes cidades como Tóquio e Osaka e, para suprir a crescente falta de mão-de-obra, a cidade tem se voltado para trabalhadores estrangeiros, especialmente do Brasil.

Mas esta solução criou um novo problema a partir de Izumo. Enquanto seus pais trabalham, os filhos desses imigrantes têm dificuldade para se estabelecer no Japão. Muitos se esforçam na escola e não conseguem encontrar trabalho, e dizem que a cidade e a prefeitura não têm feito o suficiente para criar um sistema de apoio.

“Eu não consegui fazer amigos”
Alexia Misutsu, de 16 anos, mudou-se do Brasil para o Japão há cinco anos, quando seus pais foram contratados por uma fábrica em Izumo. Os Misutsu é uma das milhares de famílias brasileiras que têm aproveitado as oportunidades de trabalho em Shimane nos últimos anos. A população brasileira da prefeitura triplicou desde 2013, ficando em cerca de 3.000 habitantes no final do ano passado.

Alexia diz não ter conseguido se adaptar à vida em sua nova casa por causa de seu japonês limitado, e, depois de terminar o ensino médio, ela abandonou a esperança de continuar a estudar.

“Não consegui fazer amigos porque não entendia japonês”, diz ela. “Foi difícil. Foi por esta experiência que não frequentei o colégio.”

“Eu precisava de apoio”
Alexia decidiu arranjar um emprego em vez disso. Mas ela achou o trabalho tão difícil quanto a escola.

Ela passou mais de um ano trabalhando em empregos de meio período, incapaz de se estabelecer em qualquer um deles. Finalmente, graças à orientação da prefeitura da cidade de Izumo e de uma organização sem fins lucrativos que apoia os brasileiros no Japão, ela conseguiu um emprego em uma creche. Ela finalmente encontrou um lugar no Japão, onde sente que pertence. Agora ela começou a estudar japonês, com o objetivo de se tornar uma enfermeira certificada.

“Eu precisava de apoio quando cheguei, quando estava em um lugar ruim”, diz ela. “A maioria dos estrangeiros precisa de ajuda porque não conhecemos a língua ou a cultura.”

Ficando em casa
Yumi Goubara leciona em uma escola de língua japonesa em Izumo. Há três anos, ela montou um grupo de voluntários chamado “Manabiya” para ensinar japonês a jovens estrangeiros.

“Hoje em dia, há um número crescente de crianças e jovens estrangeiros na cidade que estão se fechando em casa”, diz ela. “Para muitos deles, a única razão pela qual desistem da educação é porque se mudaram para o Japão. Eu acho que o mais importante é deixá-los saber que as pessoas se preocupam com eles e com o seu futuro”.

Lopes Renan, 21 anos, é um dos jovens apoiados pelo grupo de Goubara. Ele se mudou para Izumo com seus pais quando tinha 15 anos, idade em que o ensino médio começa no sistema educacional japonês. Mas decidiu não se matricular porque acreditava que o seu japonês não era suficientemente bom.

No Brasil, ele tinha sido um excelente aluno e estava estudando programação de computadores em uma escola técnica. Seu sonho era trabalhar como designer de videogames. Mas ele rapidamente abandonou essas esperanças quando se mudou para o Japão.

“Eu não sabia onde poderia ir para continuar estudando”, diz ele. “A única razão era porque eu não entendia japonês, lamentei muito ter vindo para cá.”

Durante três anos, Lopes raramente deixou sua casa. Ele perdeu a vontade de estudar ou trabalhar, passava a maior parte do tempo vendo anime e lendo quadrinhos. Em uma reviravolta tristemente irônica, ele diz que isso realmente o ajudou a aprender japonês, mas como não saía para conhecer pessoas, ele nunca o usava e não conseguia se acostumar a falar.

Abrindo
Renan diz que conhecer Goubara o ajudou a reintegrar-se na sociedade. Manabiya, o grupo de voluntários, coloca ênfase em fazer com que os jovens estrangeiros se sintam à vontade para compartilhar suas preocupações. Goubara diz que isso é importante, e não apenas como uma forma de aprender japonês.

Pouco a pouco, Renan começou a se abrir para o grupo, falando sobre suas ansiedades. Ele diz que este processo lhe permitiu sentir-se relaxado o suficiente em situações sociais para começar a procurar trabalho. A conselho de Goubara, ele assumiu uma posição de meio-período em uma loja de conveniência. Agora ele também está trabalhando em uma fábrica que produz computadores e tablets.

Renan diz que ainda não tem a certeza do que quer fazer. Mas ele tem algumas ideias de como poderia ser o seu futuro. Uma possibilidade é gerir um café para os amantes de jogos de vídeo games como ele. Ou talvez retomar os seus estudos de programação de computadores.

Potencial perdido…
O governo japonês está planejando aumentar a força de trabalho estrangeira do país nos próximos anos, em grande parte como uma forma de ajudar cidades como Izumo. Entretanto, se nada for feito para melhorar o sistema, casos como o de Alexia e Renan só continuarão a surgir.

“Viver no exterior deve ser uma forma de os jovens ampliarem seus horizontes e experimentarem coisas novas”, diz Goubara. “Em vez disso, eles estão vindo para cá e nós estamos desperdiçando seu potencial. Seria trágico se isto continuasse”.