Psicodélico e pop, Luiz Gabriel Lopes lança “MANA”.

Luiz Gabriel Lopes, conhecido por seu trabalho à frente do Graveola, é um prolífico compositor de canções. Nos últimos anos, tem circulado intensamente em formato solo, passando por mais de quinze estados brasileiros e vários países de Europa e da América do Sul. Em 2017 lançou o álbum de inéditas MANA, tendo apostado numa sonoridade mais enxuta e elétrica. Com sonoridade enxuta, o terceiro disco do cantor e compositor apresenta mensagem pacifista.

Os temas existenciais e o universo da espiritualidade seguem ecoando nas suas canções, porem com uma linguagem mais direta, trazendo referências musicais que vão do clássico álbum Unplugged de Gilberto Gil aos vôos reggoeiros do Paralamas e o ska-rock do The Police. Segundo o compositor, MANA é a eletricidade mágica que irradia dos gestos e das coisas, é a força que organiza a vibração das plantas na frequência do vento, o magnetismo sensível, a reconciliação com o feminino. Um conceito presente em várias tradições indígenas. O disco apresenta nove canções e um tema instrumental que constroem um universo de psicodelia pop transcendental. Algumas das canções (Apologia, 1986, Quiléia) já são conhecidas do público por suas versões no famigerado canal do Yotube do compositor, onde ele registra suas andanças pelo mundo com o violão nas costas. Gravado no Estúdio Minduca em São Paulo, a produção ficou sob a responsabilidade do músico paulistano Lenis Rino. Todas as músicas foram gravadas por , Luiz Gabriel Lopes (voz e guitarra), Téo Nicácio (baixo/voz), Mateus Bahiense (bateria e percussão) e Daniel Pantoja (flauta).

A cantora mineira Ceumar e o compositor paulistano Mauricio Pereira também participaram do álbum. Luiz se apresenta em dois shows com formatos distintos: na guitarra acompanhado pelos músicos d´O Cangaço Lírico ou solo acústico com o seu violão. No show elétrico o repertório prioriza as canções do novo disco Mana, com os mesmos arranjos do álbum, além de versões originais de canções do Graveola e algumas releituras de autores como Lô Borges e Xangai numa atmosfera de psicodelia pop. No show acústico o repertório inclui canções de seus álbuns anteriores além de temas que não foram gravados ainda, na roupagem nua e crua do formato voz e violão, criando um ambiente especial de intimidade com o público. O trigado dos cabelos, o claro dos olhos, o otimismo hippie e utópico, o violão intricado mas fluido, suas canções têm um quê de Novos Baianos com Clube da Esquina, de Mônica Salmaso com Frenéticas.

A música dele é feliz e densa. E dança. Daquele tipo de dança solta em volta da fogueira, fraternalismo ancestral. Coisa de índio encarnado em corpo galego.

Sua música é um libelo a liberdade mas já é ela mesma livre. Já é ela mesma libertadora pelo jogo das palavras e sons. Já é ela mesma liberdade à tardia de todas as madrugadas. Traz alento e sentimento de afeto, o Brasil no mapa dos afetos do mundo. [Chico César]

Cultivar as utopias. Não perder de vista a luz no fim do túnel. Como professar o otimismo em uma era carregada de más notícias? “Transformando a fé numa oração pra se cantar”, responde Luiz Gabriel Lopes já na primeira canção de “MANA”, que chegou em edição física e digital em agosto de 2017. O álbum passeia por sonoridades mais cruas e diretas, calcadas em baixo, guitarra, bateria e flauta, diferente do trabalho anterior, “O Fazedor de Rios” (2015), onde havia maior profusão de elementos. “Às vezes sinto que existe uma espécie de patrulha psicológica, como se o simples não fosse legal. É uma coisa de dentro da cabeça da gente mesmo. Conseguir me desvencilhar disso e apontar numa outra direção foi, pra mim, um desafio”, conta Luiz.

A busca por uma mensagem pacifista envolvida em instrumental enxuto já se mostra bem sucedida logo na primeira faixa, “1986”, um reggae pontuado por intervenções de flauta que remete à fase ‘unplugged’ de Gilberto Gil. O refrão (“eu sou seu irmão / hermano soy yo”) é tão assobiável quanto necessário, em tempos de “nós contra eles”, além de evocar a união entre os povos latino-americanos, que Luiz conhece bem após algumas apresentações em países como Argentina e Peru. Em “Apologia”, um baião, a poesia de Luiz Gabriel celebra um ser oculto cuja “bola de cristal protege a música”. A faixa tem participação de Mauricio Pereira, que empresta sua inconfundível voz para a misteriosa letra. “Mauricio é um cara que representa muito uma imagem que eu tenho de São Paulo, esse mosaico multicolorido, o afeto em meio ao ritmo maluco da metrópole”, diz.

“Matança”, composição do veterano compositor baiano Augusto Jatobá que promete ser um dos pontos altos dos shows de “MANA”, aumenta a velocidade do disco e prepara terreno para a banda adentrar o universo do ska em “Música da Vila”. A faixa narra cenas do movimentado dia a dia de uma vila de artistas, evocando o espírito colaborativo entre eles (“junta todas as moedas / aprende a multiplicar / cada um dá o que pode / no final não vai faltar”), e termina com uma frase lapidar e provocativa (“vida fácil de artista / é difícil de levar”). A vinheta “Cangaço Lírico” aparece como a dividir o álbum em duas partes. E é o que de fato acontece. Como o sol que vai baixando para dar boas vindas à noite, Luiz Gabriel puxa o freio na belíssima “Quiléia”, que ele canta com Ceumar. Com trabalho vocal que flutua entre a leveza e a dor, a cantora mineira impressiona na intepretação dos inspirados versos criados por Lopes e Paulo César Anjinho (“meu lamento é flor que nasce / bate asa devagar / morde a beirada praia / rasga pela ribanceira / mergulha”). “381 Blues” é uma visita de Luiz Gabriel ao pop rock mineiro.

A canção dele com Téo Nicácio, que aqui também canta, ganha perfeito abrigo na dinâmica ‘de banda’ – guitarra-baixo-bateria – e parece saída do repertório do Clube da Esquina (feche os olhos e tente imagina-la com a voz de Beto Guedes ou de Milton Nascimento). Anoiteceu em “MANA”, e a letra fala em estrelas, madrugada, constelação e luzes que viajam no infinito, como os pensamentos que temos ao cair na estrada silenciosa. Mas a noite também pode ser de festa, e “Caboclin” é um convite para celebração com letra mística que versa sobre a eterna busca do ser humano por se encontrar – e aponta que resposta pode estar bem perto, “no interior / dentro do agora / aqui”. “Yoko”, composição de Lopes e Nicácio inspirada numa cachorrinha que morava com a dupla, tem – coincidentemente – uma levada beatle, com vocais e climas que lembram especialmente as criações de Paul McCartney.

“Um Índio” finaliza o álbum em onda psicodélica, com letra que, apenas lida, é um perfeito poema. Seu verso derradeiro é capaz de abraçar o disco de uma vez só (“o que é bom / permanecerá”) e se conecta exata e perfeitamente com a primeira faixa, “1986”.

Sobre o álbum, Luiz explica: Algumas das canções que constituem o repertório já me acompanham há alguns anos, e têm uma história particular nos muitos shows voz e violão que fiz por aí… é verdade, entretanto, que ganharam uma outra dimensão quando vestidas pela banda. Outras foram escritas mais recentemente, fruto de algumas vivências, principalmente com o parceiro Téo Nicácio, que além de tocar na banda é co-autor de quatro canções no álbum. Penso que o MANA é o resultado de uma decantação estética, que me levou a querer produzir um disco de banda, mais enxuto e mais direto, com menos informação nos arranjos do que “O Fazedor de Rios”. Tem a ver com a busca por uma clareza na minha música, aliada a uma pesquisa de sonoridade com a banda, que me fez tomar essas direções.

A banda é composta por ciganos, cada um mora numa cidade, daí a gente sempre trabalhou por empreitadas. Se juntava e fazia intensivos, lapidava o material, discutia referências. Pros ensaios, a gente se juntou em Belo Horizonte pra fazer uma pré-produção, focados no repertório do disco, e depois viemos pra São Paulo gravar com o Lenis no Estúdio Minduca. Foi um processo rápido e intenso, levantamos as bases em uma semana, gravando ao vivo, e depois eu e Lenis trabalhamos em alguns poucos overdubs, gravamos as vozes definitivas, as participações, etc. O produtor Lenis é um cara muito versátil, um músico que eu já conhecia pelas conexões dele com a cena de BH, e que sempre admirei. Como produtor, ele tem umas sacadas muito boas de sonoridade, conhece de efeitos, tem uma medida boa, sabe intervir no resultado sem pesar a mão.  Além disso, ele conduziu o processo no estúdio de forma muito tranquila, comprou todas as minhas loucuras, com a elegância (e a paciência, rsrs) de um samurai. A gente nunca tinha feito nada junto, foi um lance meio intuitivo, mas sinto que deu super certo, tô muito feliz com o som. A sonoridade é como eu disse, já era uma vontade, fazer um trabalho mais elétrico, mais enxuto, mais simples. Menos elementos, mais generosidade com as canções em si, a melodia, a letra, a voz.

Existe uma tradição muito “maximalista” em Belo Horizonte, que gera frutos maravilhosos, mas sem querer também acaba desempenhando uma espécie de patrulha psicológica, como se o simples não fosse legal… uma coisa de dentro da cabeça da gente, mesmo. Daí, conseguir me desvencilhar disso e apontar numa outra direção, foi pra mim, um desafio. No início, os shows com a banda ainda tinham violão em algumas músicas, mas me lembro que a proposta de radicalizar e fazer tudo na guitarra veio num show que fizemos no Mundo Pensante, em SP. Passamos o som com violão e guitarra, mas minutos antes de subir no palco resolvi testar fazer tudo na guitarra, lembro que apanhei muito pra transpor os arranjos, pois a lógica é totalmente diferente, mas foi um passo interessante, que ajudou a definir a sonoridade com mais clareza.

Sobre a mensagem desse novo trabalho, sempre acredito que um disco é como uma carta de intenções. É um lance que vai ficar vibrando no ar, até sabe-se lá quando, a gente perde totalmente o controle do alcance e do significado que aqueles sons vão criar em torno de si. Acho que a responsabilidade de lançar um disco tem a ver com a perspectiva da qual cada um escolhe enxergar o mundo. Eu entendo super quem se propõe a meter o dedo na ferida, é importante também, mas com o tempo eu fui entendendo que a minha escolha passa por outro lugar. Eu escolho vibrar na frequência do que eu quero pra mim, do que eu acredito que é necessário pra mim e pro mundo. É uma coisa de cultivar as utopias mesmo, não perder de vista a luz no fim do túnel.

A gente sabe que tem muita coisa errada rolando, muita descrença, mas é importante cantar “o que é bom permanecerá”. A música cria realidades, o que eu faço é uma contribuição humilde e de coração pras energias do planeta. Sobre as participações, o Maurício Pereira é um cara que eu admiro há muito tempo. Desde os Mulheres Negras que eu já pirava, mas também os discos solo dele, o “Mergulhar na Surpresa”, o “Pra Marte”, acho lindo. Muito interessante a multiplicidade artística dele, uma inquietude com a qual eu me identifico muito.

E é claro, tem a coisa da voz também, uma característica muito específica do timbre, todo um universo poético em torno. Acho que é um cara que representa muito uma imagem que eu tenho de São Paulo, esse mosaico multicolorido, o afeto em meio ao ritmo maluco da metrópole. E quanto à Ceumar, a voz dela sempre me soou como algo simbólico de beleza e equilíbrio, como a silenciosa imponência das montanhas que se vêem ao longe, corredeira fluida e cristalina dos riachos. Uma sensação de fato bem própria ao mito fundador das Minas Gerais. Ceumar é a própria beleza, em cada sílaba entoada. Com ambos, foi um lance orgânico, baseado no afeto: rolaram encontros, uma sintonia, aquele lance todo. Fiz o convite, eles toparam. É uma alegria e uma honra imensa tê-los no disco.

Luiz estará se apresentando no Sábado, 3 de março às 19:00 no Idea Casa de Cultura (BH-MG) e no Domingo, 4 de março às 19:00 no Centro Cultural Teatro Usiminas (Ipatinga -MG).

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Cleo Oshiro
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