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Descoberta de túneis sob Quartel-General da UNRWA em Gaza aprofunda crise humanitária

Militares israelenses revelam rede de túneis sob a sede da UNRWA, acusando a exploração pelo Hamas da principal agência de ajuda aos palestinos.

Gaza City, Palestina – 12 de fevereiro de 2024 – Em uma reviravolta surpreendente, as forças israelenses anunciaram a descoberta de uma extensa rede de túneis, com centenas de metros de extensão, abaixo do Quartel-General da UNRWA em Gaza.

A revelação, feita durante um momento de crise para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, desencadeou uma investigação interna e levou diversos países doadores a congelarem seus financiamentos desde as alegações feitas por Israel, em janeiro, de que alguns funcionários da UNRWA eram também operativos do Hamas.

As acusações mútuas entre Israel e os palestinos atingiram um novo patamar, com os palestinos argumentando que Israel falsificou informações para manchar a reputação da UNRWA, uma entidade que emprega 13.000 pessoas na Faixa de Gaza e tem sido vital para a população dependente de ajuda por anos.

A UNRWA, cuja sede está localizada em Gaza City, foi palco da visita de repórteres de agências de notícias estrangeiras conduzidos por engenheiros militares israelenses. O acesso aos túneis foi feito a partir de uma entrada próxima a uma escola nas proximidades do complexo da ONU. Uma caminhada de 20 minutos pelos estreitos corredores, em meio ao calor abafado e em alguns trechos sinuosos, levou os repórteres diretamente sob o Quartel-General da UNRWA, conforme informou um tenente-coronel que liderava o tour.

O túnel, com 700 metros de extensão e 18 metros de profundidade, bifurcava-se em alguns pontos, revelando salas laterais. Um escritório espaçoso com cofres de aço abertos e esvaziados, um banheiro com azulejos, uma grande câmara repleta de servidores de computadores e outra com pilhas de baterias industriais foram alguns dos achados.

O tenente-coronel, identificado apenas como Ido, afirmou: “Tudo é comandado a partir daqui. Toda a energia para os túneis, pelos quais vocês caminharam, é fornecida daqui”. Ele destacou que o local funcionava como um dos comandos centrais de inteligência do Hamas, onde a maior parte das operações era coordenada. No entanto, Ido sugeriu que o Hamas, aparentemente, evacuou o local diante do avanço israelense, cortando preventivamente os cabos de comunicação, conforme mostrou na parte superior do quartel-general da UNRWA durante o tour.

A UNRWA, em comunicado, afirmou não ter sido oficialmente informada sobre o túnel pelas autoridades israelenses e que deixou o quartel-general em 12 de outubro, cinco dias após o início do conflito. A agência se declarou “incapaz de confirmar ou comentar” a descoberta israelense, ressaltando sua falta de expertise militar e de segurança.

O oficial sênior do Hamas, Sami Abu Zuhri, classificou as declarações israelenses sobre os túneis como “mentiras”, acusando Israel de tentar minar o trabalho da UNRWA e encobrir essa decisão com alegações infundadas.

Enquanto os apoiadores da UNRWA argumentam que a agência é a única com os meios para ajudar os palestinos em profunda necessidade humanitária, Israel insiste que a organização está “permeada pelo Hamas” e deve ser substituída. O Hamas, por sua vez, nega operar em instalações civis.

O tenente-coronel Ido, em entrevista, enfatizou: “Sabemos que eles (Hamas) têm pessoas trabalhando na UNRWA. Queremos que todas as organizações internacionais atuem em Gaza. Isso não é um problema. Nosso problema é o Hamas”. A falta de recepção de sinal de celular no túnel impossibilitou sua geolocalização como parte do Quartel-General da UNRWA. Os jornalistas foram solicitados a colocar objetos pessoais em um balde que foi baixado por corda em um buraco vertical nos terrenos do quartel-general, sendo reunidos com os itens durante o tour pelo túnel.

Como condição para levar os jornalistas na viagem, o exército israelense não permitiu fotografias de informações de inteligência militar, como mapas ou certos equipamentos nos veículos blindados que transportavam os repórteres. Também solicitaram aprovação antes da transmissão de fotografias e vídeos feitos durante a excursão.