Túlio Borges: Um construtor de melodias inesperadas na MPB. O tradutor brasiliense Túlio Borges cultua a musa como no tempo da delicadeza. “Nunca quis trabalhar com música com medo de perder o prazer de tocar”, confessa ele, que estréia, aos 29 anos, no belo e multifacetado disco “Eu venho vagando no ar”, após um longo namoro com a arte. Estudou piano na Escola de Música de Brasília, gravou jingles, integrou uma jazz band e um grupo vocal escolar quando morou nos EUA, onde excursionou e ganhou festivais. Embora compusesse desde a infância, só aos 23 anos, morando em Londres, começou a compilar a obra (tinha quase 40 canções) que gravaria na volta ao Brasil. Aqui, passou a participar de festivais e, dentre outros prêmios, foi escolhido o melhor cantor independente pela Rádio Cultura de São Paulo e teve seu álbum classificado como um dos 50 melhores lançamentos do ano pela Revista Manuscrita.
Em um destes festivais conheceu a cantora carioca Vytória Rudan com quem passou a dividir o palco. No disco, ela é sua parceira tanto no sedutor samba “Paraty” (“Ela tem algo mais/ coisa que nada no mundo faz/ trazer paz pra um coração”), cevado por cuíca, tamborim e violão, quanto no fado/tango “Zorro” (“Eu quero amar você e vou/ mas tenho que aprender quem sou/ achar dentro de mim o mapa”), onde a dupla contracena no vocal de forma intensa.
Quem também divide o microfone com Túlio é D. Inácia, que o criou e trabalha com a família há 35 anos. “É na vida talvez quem mais tenha me influenciado”, analisa. “Era ela quem trazia o negro e o popular, o nordeste e as histórias para dentro de casa”, conta. Ela abre o disco com Túlio em “Pontos”, de domínio público; “músicas que eu a pegava cantando enquanto trabalhava, canções que ela nem sabia que sabia de cor, tão doces e melodiosas”. A piauiense D. Inácia Maria da Conceição sola no último dos pontos. “A idéia era gravá-los com acompanhamento que os valorizassem e que a gravação fosse um agradecimento em vida pela força que Dona Inácia me dá, tão simplesmente com um abraço e um beijo que limpam a alma de tão sinceros e puros”, define o solista.
“Eu venho vagando no ar” (título tirado de um dos pontos) aposta nesta pureza depurada pela urbanidade do talentoso Túlio. Como no abaionado “Trem”, aberto por uma percussão que imita este meio de transporte, e tem um trecho de voz projetada, versado como nas cantorias (“o fogão dos meus desejos fala/ é tão linda que a lindeza estala”). Do regional, Túlio salta ao universal na “jazzy” “Shirley”, profusão de imagens sensuais pontuadas pelo próprio violão do cantor e a guitarra de Genil Castro. Deste clima, ele salta para a não menos envolvente “Birosca”, um samba de cuíca, cavaco, clarineta, violões e o piano de Leandro Braga. “Não pode essa princesa/ da sandália e dos pés lindos demais/ da blusa tomara que caia/ repare o tamanho da saia/ e o estrago que ela faz”.
O samba, a urbanidade e o misticismo são as coisas nossas de “Altar”, pontilhada de imagens fluídas (“Tantos morros e só um Redentor”) e duetada com o compositor fluminense Fred Martins. “Há muito choro em mim/ por mil razões que eu sei/ e mais dez mil que herdei” soma “Toca aí”, etérea, no vocal sensível de Túlio, cerzida pelos violões de Rafael dos Anjos. Já a canção “Sua”, pavimentada pelas teclas do próprio autor em diálogo com as digressões do acordeon de Toninho Ferragutti, está entre as mais arrebatadoras do disco. A teia de palavras de “Cicatriz” (“que saudade me dói, devora/ as lembranças do outono outrora”) atada pelo piano de Leandro Braga, sublinha a comunhão do cantor/autor com sua arte (“as lembranças enramam raízes/ por toda parte”). O insinuante choro “Oi/ Rio demais”, onde dialogam inesperadas trompa (Yuri Zuvanov) e clarineta (Ademir Junior) com o pandeiro de Amoy Ribas (o mesmo que alicerçou a percussão dos iniciais “Pontos”), prepara o impacto devastador da faixa título, que finaliza o disco. Prefaciada por um pífano suspenso, a letra brilha como uma jóia reluzente, um manifesto deste novo artista singular:
Em 2014 grava seu segundo álbum, Batente de Pau de Casarão. Dedicado à cidade pernambucana de São José do Egito, conhecida com capital da poesia, o disco é repleto de parcerias com poetas nordestinos, como Climério Ferreira (PI), Jessier Quirino (PB), Afonso Gadelha (PB) e José Chagas (MA).
A história deste disco começa no Sítio dos Grossos, em São José do Egito, Pernambuco. Em 1942, na terra dos maravilhosos vates do repente, onde quem não é poeta é louco e quem é louco faz poesia, nasceu meu pai. De lá vieram os nomes quase sagrados de Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú pousar humildes, silenciosos e agigantados na minha infância, trinta e oito anos depois e a mil e quinhentos quilômetros distante, em Brasília. Percebi cedo, como um processo geológico que pede o passar consistente e misterioso de muito tempo para formar uma pedreira e uma jazida, a poesia do improviso no sertão do Pajeú. De modo que na adolescência eu ouvia cassetes de cantoria, me interessava por folhetos e aprendia quem eram os grandes da poesia nordestina.
Em 2012, em viagem para levar meu pai que fazia vinte anos não revia a terra e os familiares, lá voltamos. Fora a emoção dos reencontros, lembranças diversas de todos, o bode com arroz de leite, o bolo de caco de minha tia e as cantorias, houve um pulo à cidade de Patos da Paraíba. Era noite escura e íamos com a estrada iluminada apenas pela Veraneio, quando meu primo Alex pôs no som um CD de Zeto e adiantou que eu ia gostar… Começava ali, de súbito naquela noite feita, uma outra viagem dentro da viagem. Zeto solava na escuridão, do violão arrancava um diamante bruto, recitava, cantava como se houvesse apenas isso no mundo, atitude e poesia assombrosas. Remetia-me à essência mais bonita, atemporal e que mais me emociona no ser humano. Fiquei doido e, com meu juízo, quis aprontar logo um disco.
Anos depois, juntei os queridos parceiros e parcerias e aqui está. Este trabalho é fruto da minha admiração pelos poetas e cantadores nordestinos, uma interpretação e aproximação da minha história. O álbum Batente de Pau de Casarão, foi selecionado para a lista dos 100 Melhores Discos da Música Brasileira de 2015, escolhidos entre 1.252 discos.
O CD independente Eu Venho Vagando no Ar recebeu críticas positivas de várias mídias especializada:
“Deixo que a brisa toque o sino em mim no tempo o vento sabe quando é tempo e quando é silêncio entendo”
Tárik de Souza, jornalista e crítico musical
“Delicadeza também combina com rebeldia. Um trabalho redondo, muito bem pensado. Se fosse há alguns anos, seria tomado como base da mpb de hoje. Bem vindo, futuro.”
Revista Manuscrita
“Dono de perfeito domínio do texto e das ideias, um cancionista que chega pronto. Para dar uma noção prévia, eu diria que aqui e ali ele lembra Caetano Veloso e Chico Buarque. Não é pouca coisa.”
Jornal ABC, Porto Alegre
“Merecia ser lançado em vinil, para fazer companhia aos discos dos bambas da MPB dos anos 1970 e 80.”
Kiko Ferreira, do Estado de Minas
“Além de uma profundidade que não dispensa a leveza. É um trabalho que não pode passar despercebido.”
Luiz Fernando Vianna, da Folha de São Paulo
“Construtor de melodias inesperadas, criador de poesia calorosa, a música de Túlio Borges tudo harmoniza em suave cumplicidade, com cuidadosa feitura. Seu CD independente Eu Venho Vagando no Ar traduz com música os sentidos e os sentimentos que são seus, mas também são nossos.”
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Túlio Borges esta trabalhando o seu terceiro álbum que se chama Cutuca meu peito incutucável, com previsão para ser lançado em 2016. Ele promete um CD repleto de canções lindas e elaboradas, que falam de desejo, de paixão e que cutucam as feridas de todo coração que já amou.
Radio Shiga by Cleo Oshiro
Website: http://www.tulioborges.com/#cutuca

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