Iria Braga: Uma artista completa. Iria Braga é cantora, atriz e apresentadora do programa É-Cultura na TV Curitibana. Quem já teve a oportunidade de vê-la cantando, vai perceber na sua presença de palco, uma grande dosagem teatral nas suas interpretações musicais, onde ela deixa transbordar toda a sua emoção. Hoje vocês vão conhecer um pouco sobre essa escorpiana curitibana, dona de personalidade forte e que ama um camarim, um foco, uma bela iluminação, porque na sua concepção esses elementos cênicos fortalecem
a sua música.
Iria é um nome raro…diferente. Qual a sua origem?
É mesmo um nome incomum. Existem algumas origens possíveis como a latina, indígena, portuguesa…Mas quando fui batizada, meu pai sugeriu o nome e nem pensou nisso. Escolheu porque gostava de uma criança com esse mesmo nome quando morava no Rio de Janeiro. O engraçado é que, até meus 5 meses de gestação juravam que eu seria um menino, tinha roupinha azul e nome: Sandro Lennon Braga (risos). Brincadeiras a parte, amo meu nome, ele sempre respaldou minhas estranhezas.
A sua trajetória artística é musical e teatral. O início na carreira foi como cantora ou atriz?
É um pouco difícil traçar com precisão meu início nessas áreas e como comecei de fato. Tudo veio acontecendo em paralelo, se misturando. Em resumo, sempre cantei pela casa, em meu jardim, na igreja… Aos 15 anos, me inscrevi no curso de teatro do Colégio Estadual do Paraná e paralelamente, comecei a fazer aulas de canto no Conservatório de MPB da Fundação Cultural de Curitiba. Esses foram os impulsos primordiais. Consequentemente, vim trabalhando ativamente na cidade em grupos musicais, realizando meus shows solos, atuando em companhias de teatro… É estranho dizer isso, mas, internamente, sempre me senti artista, mesmo que minha plateia fosse meus gatos, os cachorros, as galinhas e coelhos do meu quintal.
As influências musicais surgiram através da família?
Sim e não. Porém, as influências e estímulos mais significativos vieram de minha avó materna. Ela gostava de cantar e soltava a voz a la cantoras do rádio no coro da igreja. Eu achava o máximo e me impulsionou a cantar na igreja também. Tudo era muito bom e simples.
Por que a música Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant, foi um divisor de águas na sua vida?
Essa música tem um poder incrível de tocar o coração das pessoas. Eu fui apenas mais uma das milhares que pararam a vida por horas a fio com essa trilha em looping. Conheci o Milton e a Elis Regina mais profundamente na adolescência, porque antes eram só os hits. E foi na interpretação de Elis que ouvi “Travessia”, através de um vinil que ganhei da dona Helô, mãe de uma grande amiga (Leonarda Glück). A mescla da canção à potência dramática de Elis foi decisiva, me fez enveredar à música brasileira, instigou minha curiosidade. Desejei colocar minha digital no que produzisse a partir dali. Outra circunstância, é que minha adolescência foi um tanto depressiva. O teatro, a música, as artes de fato me salvaram. Não possuía a “tal” leveza da fase (risos). Sempre fui muito intensa em tudo e encontrei abrigo em artistas que correspondiam essencialmente essa densidade. É lindo ver alguém envolvido sem medo, emocionado, falar da morte porque vive intensamente.
Quando foi sua estréia profissionalmente?
É difícil responder precisamente, pois assim que decidi pela arte encarei cada situação com muito afinco. E depois, esses limiares são tênues, por exemplo: ainda aluna de canto fui convidada a fazer um show em homenagem a Assis Valente sob a direção de João Egashira, um grande violonista da cidade, em companhia de outros excelentes músicos. Mas, um ponto importante no sentido de independência, na música, foi meu primeiro show solo “Fita Meus Olhos”, em 2000; e no teatro, aconteceu quando fundei junto a outros artistas a Cia Elenco de Ouro também no mesmo ano.
Sua trajetória artística foi sempre com apresentações em grupos?
Nem sempre. Desenvolvi meus trabalhos como solista e paralelamente integrei grupos na música e no teatro. Por isso, também tenho algumas bandas e elencos importantes na trajetória. Amo a convivência que os coletivos oferecem e sinto muita saudade. Apesar que meu projeto solo não é tão solo assim. Tenho os parceiros que tocam comigo, na produção, na direção, na vida… Ninguém realiza nada sozinho.
Fazer parte de vários grupos te fez filha de várias influências?
Com certeza! A cada empreitada o artista se desafia um pouco, se redescobre dentro de novas realidades e vai ampliando seu repertório particular. Isso foi muito positivo para mim.
Quando iniciou carreira solo?
Em 2000 com “Fita Meus Olhos”, um show em homenagem ao mestre do samba canção, Cartola. Convidei o Trio Quintina (Gabriel Schwartz, Fabiano Tiziu e Gustavo Schwartz) para me acompanhar e sob a direção cênica de Cleber Braga, realizamos uma linda temporada no mini-auditório do teatro Guaíra em Curitiba.
Seu primeiro álbum solo contém referências de ídolos que você admira. Quem são os homenageados nesse seu novo trabalho?
Todas as músicas e compositores têm grande importância na estrutura do disco e, principalmente, foram escolhidas pelo viés afetivo. Uma vez que você se dedica a desenvolver uma linguagem particular, os ídolos se decodificam dentro do som, mas, ainda fica ali uma pitada deles. Amo Billie Holliday, Chet Baker, Björk, Meredith Monke, Esperanza Spalding, Maria Bethânia, Egberto Gismonti, Silvia Pérez Cruz, Bobby McFerrin, Camille, Toninho Horta, Nina Hagen, Hermeto Pascoal…. Mas mais do que um ídolo em específico quis evidenciar a não fronteira entre os estilos que amo. Trouxe a música para o meu pensamento musical, sem fechar drasticamente no gênero de raiz dela. O que dá unidade é minha voz e minha maneira de conduzir e a sonoridade conquistada pelos anos de trabalho
com meus músicos.
Quantas melodias nesse CD e quais os estilos musicais optou para compor esse álbum?
Pois é, canto palavras e canto sons puramente. Contraponteio melodicamente com os outros
instrumentos também. Tem uns jogos melódicos divertidos e desafiadores, concebidos pelo Oliver Pellet. Trago aqui música de domínio público, música erudita, samba, samba canção, baião, instrumental brasileiro… E como citei acima, nunca em sua forma original. Por isso talvez se aproxime um tanto da liberdade que o jazz propõe.
As composições tem uma textura musical que impressiona. Não achou as escolhas arriscadas?
É uma coisa importante, para mim, a texturização desse CD. Eu pensei muito sobre isso, porque eu queria buscar essa impressão junto das músicas. A textura foi importante e que bom que ela impressiona, fico muito feliz. As escolhas são um pouco arriscadas, mas é um risco positivo, porque quando você cria alguma coisa, pelo menos para mim, é importante que você tenha um tanto de risco pra que você consiga se desenvolver mais, mas não é um risco a toa, é um risco em prol daquilo que você quer, como o melhor pro seu trabalho, a direção que você está buscando. Estar com os músicos é um tipo de risco, mas especialmente me arriscar dentro do meu instrumento é uma das coisas que foi mais prazerosa. Ao mesmo tempo é simples e ao mesmo tempo, até na própria simplicidade, também buscar um risco, um lugar que te promova desenvolvimento.
A produção musical é sua?
A produção é de Oliver Pellet, um amigo de longa data. Sou muito fã dele e o trabalho que desenvolve. Mas eu fiquei muito próxima na elaboração dos arranjos… Conversamos muito, trocamos muitas figurinhas, experimentamos… Para uma escorpiana, eu não conseguiria ficar relaxada (risos). Foi um grande aprendizado, na verdade, participar de todas as etapas. Fiz questão de participar de todas as etapas desse primeiro disco.
Onde foi o lançamento?
O lançamento virtual foi em 2013. O show oficial aconteceu em 2014 no Teatro do Sesc da Equina em Curitiba. E agora vem uma turnê pela frente desse trabalho, inclusive apontando para novas propostas.
Tem uma banda fixa que te acompanha nos shows?
A gente não tem uma ideia de banda exatamente como as bandas tem, o que a gente tem é uma parceria de longa data. Desenvolvemos um trabalho há muito tempo, porque nos conhecemos há muito tempo, porque a gente gosta de tocar há muito tempo e, claro, desembocou no meu projeto solo. Emotivamente, afetivamente, é um grupo. Fazemos coisas com projeto, sem projeto, tocamos junto esse repertório. Funcionamos pensando como um grupo, por mais que eu seja solista e encabece e vá na primeira pessoa esse trabalho, são sempre as mesmas pessoas: Davi Sartori no piano, Sandro Nascimento no baixo, Denis Mariano na bateria. O que a gente tá meio oscilante é o nosso guitarrista, primeiro era o Oliver Pellet, depois foi mudando, mas de modo geral, nunca entraram outras pessoas. Eles são mais do que músicos que me acompanham, são meus parceiros.
Seu currículo de espetáculos é grande. Quantos shows produziu até o momento?
“Fita Meus Olhos”, só dedicado ao Cartola, em 2000; “Oração ao tempo”, em 2002, que era um estudo de músicas afro-brasileiras, com esse cunho, que se estendeu pro show “De Cor Laranja Amarelo Ouro”, em 2004; um só de músicas autorais em 2007 que se chama “Flor de Maracujá”; depois eu fiz “Peixe Estrela”, em 2008, que era um repertório só da Joyce; voltei da França e fiz “Mélanger”, com música brasileira e música francesa, em 2009; segui por uma coisa, que eu queria, alguns elementos, uma textura com alguns detalhes eletrônicos, “Le Passiflora Projet” (2010). Foi quando eu comecei a apontar mesmo para a produção do disco, que foi o pré-lançamento já, de Iria Braga e quarteto, em 2011; depois eu vim fazendo “Volátil”, que é o duo com o Davi Sartori.
Qual foi o show que produziu e teve um significado especial?
O primeiro show que eu produzi, que eu fui atrás de apoio, que eu corri atrás de figurino, enfim, que eu já tinha e já apontava todos os elementos teatrais que eu queria reunir ali naquele contexto do Cartola, um germe de ideia, foi no “Fita Meus Olhos”. Foi o primeiro show que eu fiz, que eu produzi, que eu cantei como solista e que até hoje é muito significativo para mim. Porém, importante relembrar que não foi o primeiro que eu participei. Eu participei de vários shows antes no Conservatório de MPB, porque existiam shows que você fazia ao final do semestre. Cantei com Eliane Guariante, com os alunos dela, que são vários cantores que estão aí até hoje, com uma carreira em Curitiba. Também fiz shows a convite de outras pessoas, então, não foi o primeiro show que eu cantei, foi o primeiro que eu produzi.
Sua interpretação musical tem uma densidade incrível, onde se percebe a linguagem dramática fluindo por todos os poros. Esse efeito faz parte da sua personalidade?
Sim. Independente se eu fosse atriz ou não, com certeza a dramaticidade é uma coisa que faz parte da minha personalidade, mesmo. Talvez, o que modificou, é claro, que encarar isso como um meio profissional e também estudar isso para não morrer, porque são duas coisas diferentes. E a palavra dramática também tem que ser vista de um ponto de vista cênico, não de drama, desse lugar que as pessoas acham que é chorôrô, a tristeza, a melancolia, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu tenho uma personalidade forte, mesmo quando eu nem tinha colocado o pé no teatro, tinha esse efeito nas coisas que eu fazia na minha vida, mas é claro que o teatro sempre me interessou, lá eu vi a possibilidade de expressão com muito mais, como arte, foi um lugar de escoamento muito interessante, que só potencializou a minha música.
Já se apresentou ao lado de nomes consagrados da MPB. Cite alguns com quem dividiu o palco…
Jorge Mautner, quando eu cantava numa banda de soul brasileiro, funk-soul, chamada Mafagafieira; depois, ao lado do Molungo, abrimos o show pro Diogo Nogueira, recebemos o Rodrigo Maranhão também; com o MUV cantamos com o Carlos Dafé; no premio Lumen, que eu ganhei como melhor intérprete, a gente tocou com o Paulinho Moska.
Você fez shows em Paris. Como foi a experiência de cantar na cidade luz, famosa pela sua arte e cultura?
Foi muito interessante ter ido para a França, foi um divisor de águas também na minha vida. Lá eu pude ver o poder da música brasileira fora, o quanto a música é realmente, não sei se a palavra é contagiante, mas… Quando a gente vai para um lugar que é diferente do da gente, a gente consegue identificar melhor os pontos, o que você gosta, o que você não gosta, o que você quer fazer. Foi muito decisivo para mim, porque quando eu voltei, aí eu realmente falei: “não, eu sou uma cantora de música brasileira, gosto, eu amo a música brasileira, e eu vou me dedicar muito mais a isso”. Foi quando eu voltei, resolvi entrar na faculdade de música erudita, olha só que ironia, mas para conhecer mais, pra poder me fortalecer mais como interprete, porque eu sempre tive essa preocupação em desenvolver o
meu ofício maravilhoso, com cada vez mais intensidade. Então eu cheguei lá, e essa multiplicidade de sons que tem em Paris, por ser uma grande metrópole, que vem gente de tudo que é parte do mundo, eu fiquei realmente muito louca, muito inspirada. Paris me trouxe isso, uma inspiração gigante, foi muito importante para mim, pras minhas decisões pós-França.
Se apresentou em outros países?
Não me apresentei tanto quanto na França, coisas mais simples assim. Na Espanha, agora em 201,3 eu fui com o Elenco de Ouro me apresentar em Granada, e a gente fez um espetáculo lá sobre cartografias, que não era um espetáculo, era uma intervenção urbana. Cantei em alguns lugares como jam-sessions, nada tão importante como uma temporada, mas a ideia é que isso flua mais agora e o desejo sobre isso é maior ainda.
Absorver a cultura de outro país contribui para um crescimento mais amplo na vida do artista?
Com certeza. Viajar, conhecer o diferente e aceitá-lo, dá uma dimensão interna de que você é só mais um, você deixa de ser auto-centrado e compreende que é muito além, que as suas verdades elas realmente são só suas, isso é muito bacana. Se você ver pelo lado positivo, essa é uma das coisas também que contribuiu muito para a minha música ficar mais expansiva, eu nunca quis deixá-la restrita em algum lugar, por ter curiosidade por muitos jeitos de cantar. Não existe um jeito certo de cantar, não existe um jeito certo de fazer determinadas coisas, existe o jeito que você faz, a junção dentro da tua essência artística. A minha essência artística gosta de misturar, gosta de zuar, zuar no bom sentido, brincar, misturar, para criar uma coisa que seja uma identidade da Iria. E a coisa de viajar para outros países traz isso, você chega lá e vê milhões de pessoas que não agem como teu país, que não agem como as pessoas da tua cidade, você volta mais humilde no sentido positivo, você volta mais inspirado mesmo, eu acredito. Para mim, foi assim pelo menos.
Falando em cultura, qual a sua formação na área artística?
Me formei como atriz no Colégio Estadual do Paraná em 1999. Trabalhei muito, querendo vivenciar, para depois tomar a decisão assim que eu voltei da França, então, de fazer uma formação acadêmica, e até estava inclusive emendando já o mestrado, queria fazer doutorado, enveredar por aí, mas eu preciso de umas pausas na vida. Me formei em 2011 na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, fazendo licenciatura em música, como eu digo, foi muito importante, foi excelente na verdade. Eu acho que tudo acontece na hora certa, eu acho que a gente, por preconceito às vezes, a gente herda uns preconceitos, a gente não se aproxima de algumas coisas, depois, quando você está lá dentro fazendo, vendo, você fala: “poxa, mas isso é tão legal, isso é tão importante, tão bom. A gente sofre com uns achismos, com umas bobeiras de não querer se aproximar de algumas linguagens.
A música brasileira tem um reconhecimento incrível no exterior. Você acha que a música de qualidade é mais valorizada fora do que no Brasil?
Eu não tenho tanta experiência fora do Brasil para dizer. O que eu leio, o que eu vejo, o que eu sinto, é que as pessoas se sentem mais valorizadas pela própria educação musical que existe fora. A gente tem um déficit imenso de compreender a música, não só essa de qualidade que a gente diz mais elitizada, mesmo a música de raiz, musicas tradicionais, a gente tem um preconceito gigante, pela falta de informação e formação musical. Eu vejo o que os meus amigos vivem, e muitas pessoas aí que até são grandes músicos do Brasil, estão vivendo mais fora do que no próprio país, porque a sua música consegue ser comercializada, consegue chegar a vários ouvidos, tem um público, tem reconhecimento, e quando eu estive fora eu vi que o poder da música que eu fazia, e o interesse pelo que eu fazia, era muito maior, do que, por exemplo, que na minha própria cidade, porque as pessoas precisam de rótulos, e isso é engatinhar, querer rótulos é ainda engatinhar, eu acho.
Gostaria que falasse sobre seu outro lado, o da Iria apresentadora.
Eu já trabalhei muito com vídeos, como garota propaganda, como modelo, fiz fotos. Por ser atriz, acabei indo para este lado do marketing, da publicidade, isso me deu um tipo de cancha. Como ator a gente vai se desmembrando em tudo, a gente faz performance, jingle, locução, cerimonial, o artista tem que ter essa elasticidade, caso contrário, não sobrevive. Se você não for milionário, se não descender de uma família milionária, você não sobrevive, a verdade é essa. Eu sempre fui produtora das minhas coisas. A coisa de ser apresentadora de um programa, para mim, foi uma novidade. Eu tinha voltado da Espanha, achava que isso não ia acontecer, porque eu estava com um visual muito radical, com a cabeça raspada do outro lado, no fim das contas, pelo conhecimento em arte, pelas minhas formações, pela minha vivência em música, teatro, cinema, foi um facilitador. Eu gosto muito do programa, eu gosto muito de estar com os artistas, colabora com aquele pensamento de que todo mundo tem a sua verdade, cria coisas muito inusitadas. Desvendar o ser-humano, porque quando você está ali entrevistando, a parte bacana é que você desvenda um pouco o universo daquele artista. Estou andando por várias áreas: cinema, HQs, artes plásticas, artes visuais, enfim, uma série de outras artes que me interessam e me deixam muito curiosa. Eu também vou conhecendo mais a minha própria cidade, que as vezes é um labirinto inacessível (rs). É interessante, uma grande experiência.
Vamos falar sobre a Iria atriz. Você participou de várias Cias de teatro durante sua trajetória artística?
Participei de várias companhias, trabalhei muito com uma companhia de Curitiba chamada Regina Vogue, que é da Regina Vogue mesmo. Fiz muitos espetáculos para crianças, fiz muita preparação vocal com os elencos da companhia, trabalhei com alguns como Paulo Biscaia, Cesar Almeida, Cleber Braga, Companhia Elenco de Ouro. Essa companhia, como eu comentei, que ajudei a fundar, a gente sempre se encontra de tempos em tempos, é um amor para sempre, eu acredito. É bacana isso também de você estar circulando com diferentes artistas, diferentes diretores, cada um tem um pensamento, vai te puxando para lá e para cá e colabora com tudo isso que eu estou falando. Como eu gosto disso, não quero ficar enraizada, formatada, isso foi uma coisa bacana. Atualmente, eu não tenho estado tão presente no teatro como atriz. Quando eu faço algumas participações, o pessoal me convida para fazer uma intervenção aqui e uma ali, eu vou. A performance tem me interessado mais em certo sentido, porque está mais próxima da performatividade vocal, que me interessa, mas eu estou gestando um projeto para o ano que vem, um solo meu, de teatro, de performance, vai ser bem interessante.
Quantas peças de teatro participou?
Foram várias. “Cinderela”, que eu fui a protagonista, a gente ficou, sei lá, quatro anos com esse espetáculo. “Aristogatas”, que eu fui indicada a melhor atriz. Fazendo as contas aqui, já fiz mais de 30 espetáculos, todos com um sabor especial.
E cinema?
Cinema eu fiz pouco. Fiz algumas produções locais, cinco para ser mais exata. E pretendo, adoraria poder fazer, daqui com um tempo estar mais próxima do cinema, porque me atrai, me instiga muito, eu gosto bastante dessa linguagem.
Você é uma intérprete dotada de um grande talento, com uma voz marcante e presença de palco. Como você define sua arte?
Eu sou uma artista brasileira contemporânea, nem sei se dá para falar mais, porque se diz hoje pós- contemporânea. Eu defino minha arte é que ela tenha muita emoção, é uma arte que tem um equilíbrio entre conhecimento e a visceralidade, o visceral, e porque também é meio andar para traz achar que você está descobrindo a roda. Tem que saber o que já passou, o que aconteceu, vivenciar alguns processos, para poder também entrar, mergulhar dentro de si e produzir algo que seja honesto, honesto consigo mesmo. Acho que minha arte vai de encontro a isso, com uma honestidade do que eu acredito, dos períodos, das fases da vida. Minha arte comunica com o tempo emocional, com o tempo interno das coisas, com o silêncio, com os extremos também. Minha arte se define como eu vivo a vida.
Como está o seu momento atual, relacionado as áreas profissional e artística?
Tô num momento bom, incrível, de muito trabalho, muita dedicação, momento de gestar muita coisa, de produzir em torno disso tudo que eu já falei, de avançar mais. Momento turbulento, sem tempo, mas muito positivo, especialmente de reconhecimento. Nunca busquei um caminho muito fácil, um caminho muito óbvio. Eu sempre quis entender o que que tinha por trás das coisas visíveis, sempre quis investigar o interior das coisas e para mim isso é muito importante: aquela alma, investigar a alma das coisas. Não consigo me convencer só com a forma, então, esse é um momento muito positivo. Momento em que eu vejo que algumas pessoas conseguem captar aquilo que eu estava tentando microscopicamente propor, de elementos artísticos importantes para mim. Quando eu escuto alguns comentários, algumas mensagens que eu recebo, eu penso: “puxa, alguma coisa aconteceu, um elo se estabeleceu”. Justifica toda minha correria, minha loucura, minha urgência interna, minha paixão, porque eu tenho uma paixão incrível por tudo que eu faço.
Pra encerrar nossa entrevista…Algum projeto novo em estudo?
Estou agora fazendo, estudando bastante para os shows, isso já está dando algum trabalho. Uma vez que você grava o disco, o ensaio não é um projeto dado, ele tem que continuar vivo. Para mim isso é importante, que o projeto, que o disco, que as músicas continuem vivos. A gente está passando por um processo de rever algumas coisas para ver se elas funcionam ainda, isso é muito importante, recriação, colocando novas músicas no repertório. Também estou já visualizando a gravação de um novo disco para o ano que vem, tem clipe novo na jogada agora em agosto, tem uma série de coisas apontando. Sempre aberta a outros fluxos que a vida propuser.
Da Redação by Cleo Oshiro
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