Lucas Gonçalves pega a estrada de sua própria história em Verona
O músico, cantor e compositor Lucas Gonçalves, lançou em 2021 o seu segundo disco, “Verona”. O novo trabalho que chegou às plataformas digitais no dia 23 de setembro, foi produzido em seu home estúdio e lançado pelo selo Pequeno Imprevisto. O cantor só soube que tinha um disco no início deste ano. Lucas passou a maior parte de 2020 experimentando esquemas de captação em seu próprio estúdio em casa, quando gravou as faixas Subir a serra (saudade é que nem neblina) – lançada em julho como single – e Ver a cidade (outra praça de ser), respectivamente faixas 2 e 6 deste lançamento.
Ele logo percebeu a relação entre essas duas canções, que acabaram por formar o que seria o protótipo de Verona. “Comecei a ver um cenário, o início de uma pintura na minha cabeça”, ilustra. A obra completa – sucessora do seu elogiadíssimo álbum de estreia, Se Chover [2020], – conta com 17 faixas, todas assinadas por ele, exceto Amigos do Peito (+paraIso), de autoria de Aloisio Guedes e apresentada ao público em agosto como o segundo single do trabalho.
Lucas não estava acostumado a pensar uma obra com uma sequência narrativa, mas quando escolheu uma ordem para as músicas, pôde ver com mais clareza os “buracos” da estrada. “Eu sou entusiasta, e muitos compositores são, de quando você enxerga um caminho, uma estética, fica tudo mais fácil, você consegue direcionar o trabalho. Com
Verona aconteceu isso.
Quando eu defini uma ordem do disco, nasceu a faixa Diários de Bicicleta, por exemplo, que veio para cobrir alguns buracos narrativos do disco”, afirma. A ideia de produzir um álbum do zero era um desejo antigo do músico (em Se Chover, a produção é assinada por ele em parceria com Luciano Tucunduva).
Em Verona, Lucas usou muito de seus próprios recursos como uma guitarra linha por falta de amplificador e chegouaté a queimar um HD mixando uma das faixas do disco. A bateria – de Renato Medeiros – gravada em dois canais e uma guitarra de 12 cordas ajudou a construir a atmosfera folk rock com tons de Minas Gerais da obra; além das guitarras – este é um disco cheio delas – solos de saxofone também são responsáveis por equilibrar os harmônicos com sons mais metálicos. Dono de uma poética ao mesmo tempo pessoal e universal, com a rara habilidade de que, ao falar de si, está falando de todos nós – Lucas faz um mergulho ainda maior em sua própria história em Verona.
Algumas das letras são criações antigas, como Manhã de domingo, de 2009, mas todas se conectam como afluentes de um rio que leva até Passa Quatro, cidade onde ele viveu a infância. Por isso, muitas das composições têm traços biográficos com imagens que Lucas tentou recompor.
Uma delas: aos 15 anos, ele chegava em casa quando o dia já estava nascendo, depois de uma noitada já trabalhando com música, e era recebido pelo pai fazendo café da manhã. Para o músico, esse é um disco romântico. “ As coisas foram um pouco aumentadas, exageradas, mas [escrever as letras] foi uma terapia pra mim. Falo de alguns amores que eu vivi, de amizades. “Tudo o que eu não disse a você, paira no céu da boca. Não me espere lá”, ele diz, citando um trecho de Não me espere Lá (jardim dos leões).
Participações vieram de troca de mensagens sobre Se Chover. Esta viagem até os afetos de Lucas Gonçalves pode até acabar na estação, mas ele não fez essa viagem sozinho. O sucesso de Se Chover fez com que Lucas começasse a
receber mensagens de músicos e artistas; essas conexões logo se tornaram parcerias que agora podemos ouvir em Verona.
“Era gente que eu queria fazer som e que nunca tive coragem de chamar”, diz. Segundo ele, o período de isolamento que forçou colegas e público a acompanharem seu trabalho pelas redes sociais facilitou algumas dessas aproximações.
Vitor Loureiro gravou os sintetizadores de Ver a Cidade. Sua mixagem em Subir a Serra também serviu de guia para o restante do disco. Até conta com a flauta transversal e as vozes de Helô Ribeiro. Cuca Ferreira é responsável pelo saxofone de Para P4 (às suas esquinas) e Suka Figueiredo pelo Saxofone alto na faixa instrumental do disco.
Lucca Simões gravou guitarra em Amigos do Peito (+paraIso), órgão em Ver-a-cidade (outra praça de ser) e piano elétrico em Tempo Bom (êê saudade). Aline Lessa gravou vozes e criou um baixo no piano em DES (embarque). Betina fez os sintetizadores de Manhã de domingo (a corda no meu coração) e Heberth Souza gravou sintetizadores, órgão e um piano elétrico em Diários de Bicicleta (estrada velha). A faixa de abertura tem participação do violino de Fernanda Kostchak.
O disco conta com a capa de Davi Guedes e Felipe Vieira, inspirados por uma foto do pai de Lucas correndo na beira da estrada. A imagem é de 1985, antes da família descobrir uma alteração em seu cerebelo que mais tarde tiraria sua capacidade motora. Na capa, Lucas está usando a jaqueta do pai. “Uma inspiração imagética: eu chegando em Passa
Quatro em 78 e falando pro meu pai – “Ei, vamos tomar uma ali no Paulão?.
Em 2020 Lucas lançou o seu primeiro álbum de canções, “Se Chover”, gravado no estúdio Submarino Fantástico (SP) durante o ano de 2019 por Luciano Tucunduva, e pelo selo Pequeno Imprevisto. Nesse disco Lucas Gonçalves, equilibra arranjos ternos e poesia densa.
Lucas passou a infância descobrindo música, fuçando a coleção de seus pais. Em 2012 se mudou para São Paulo, e em 2013 começou a trabalhar como técnico de som na Casa do Mancha, por onde passaram vários artistas da cena independente nacional. Lá conheceu outros músicos e criou a sua primeira banda em São Paulo, a Vitreaux, projeto em que atua como guitarrista e vocalista, com a qual lançou um EP de estréia “Dois por dois”, pelo selo Mono.Tune Records e em 2016 o seu primeiro disco [Pra Gente Poder Passear] pela Deck Disc.
Em 2017 ingressa na banda Maglore, assumindo o contrabaixo. Músico autodidata, criado em Passa Quatro, Sul de Minas Gerais, começou ali as suas primeiras composições, no final do ano de 2007. Tocou profissionalmente na noite da cidade por quatro anos, com vários grupos que mesclavam interpretações e músicas autorais.
A banda tocou por alguns estados, passou por alguns festivais consolidados no Brasil como o Bananada, em Goiânia, Dia da Música, no Rio de Janeiro e Fora da Casinha, em São Paulo. A banda também lançou em 2020 o segundo disco de estúdio, intitulado “Na Espera da Fila”. Em 2017 foi convidado a ingressar na banda baiana Maglore. Gravou com eles o 4º disco [Todas as Bandeiras] lançado pela Deck Disc.
Começou a gravar o seu primeiro disco solo, [Se Chover] em 2019 no Submarino Fantástico em São Paulo, com coprodução de Luciano Tucunduva. O disco conta também com participações de Beto Mejía na flauta transversal, Filipe Castro na percussão e Bruno Bruni nas teclas. O repertório que compõe o trabalho são de canções autorais autobiográficas.
“[Se Chover] foi a música guia para o restante do disco, um caleidoscópio de lembranças vívidas ou idealizadas de um romance que eu idealizei ou vivi há alguns anos. O violão e a bateria foram gravados ao vivo, e em algum momento eu e Pedrinho (Pedro Lacerda) saímos do metrônomo juntos e conseguimos contornar, evitando de ter que gravar outro take & ganhando horas naquele domingo. Convidamos Beto Mejia para a flauta e Mali Sampaio para o baixo acústico.”
O disco Se Chover anseia a mudança do tempo. A condicional “se” trata da imprevisibilidade dos dias. A vida é instável, tal como os lugares para onde as músicas podem nos levar. Um pequeno objeto pode despertar essa viagem, mesmo que inconsciente.
O disco é sobre a sensação daquele instante repentino que te faz lembrar o que aconteceu anos atrás, como as madeleines de Proust. Lucas Gonçalves vai parar em sua infância no sul de Minas Gerais, mas também fala de temas universais, como amor, mágoa e morte. Seu disco de estreia, com dez faixas próprias, já está disponível em todos os tocadores de música.
Ainda que Lucas Gonçalves tenha singles e EPs lançados, “Se Chover” é um marco para seu percurso como compositor. A faixa-título puxa as demais. “A partir dela eu comecei a perceber que eu tinha outras canções que falavam de chuva e de sol, como metáforas para gatilhos de memória. Essas músicas conversavam entre si e vi que fazia sentido colocá-las em um disco”.
Lucas compõe de maneira muito pessoal, para lidar com as angústias e compreender seu próprio universo. Escreve suas letras com tanta concentração, que às vezes o dia vira noite e ele nem percebe. Precisa encontrar palavra e frase perfeitas, e que funcionem melodicamente. Mas não adianta ser só harmonioso. “Tem que ser honesto, transparente como é… Uma música é transparente!”, diz. Uma frase musical pode rondar sua cabeça por anos, até que encontre um caminho e desate o nó.
“Se Chover” é um álbum com conceito sonoro bem resolvido. Tem o violão de nylon no centro, como os discos brasileiros de 1970, mas é tocado num movimento solto, como no folk. Uma parte do disco foi gravada de modo totalmente orgânico, com instrumentos acústicos, e outra tem a sonoridade do baixo elétrico.
Até mesmo em seus shows, estes dois momentos se intercalam. Na parte percussiva, um outro elemento soma à sonoridade quando o surdo é substituído pelo bumbo leguero, instrumento argentino. Violão de nylon, contrabaixo, bateria e percussão vêm acompanhados de cordas, piano e flauta. “Eu pensei em não repetir nesse disco o que eu já toco em outros projetos.
Eu queria um caminho de sonoridade e arranjo diferentes”, explica Lucas, que é vocalista e guitarrista da Vitreaux e baixista da Maglore. “Eu quis fazer um disco centrado na canção, sem muitas guitarras e com uma estética mais limpa. Também não tem nada eletrônico, nenhum beat ou sintetizador”.
Lucas Gonçalves escreve músicas narrando sua própria história. Recorda de um fato que sua mãe o contou e colhe fragmentos de realidade para construir suas composições. Uma gaveta com fotografias antigas, as fitas no aparelho de som do carro de seu pai, a viola da avó em seu quintal, que também recebia as folias de reis – essas são algumas memórias que o ajudam a reconstituir o enredo de Baixa a Poeira.
A maioria das músicas foram criadas no interior. Mesmo as ideias que nasceram em São Paulo, cidade onde vive há oito anos, Lucas levou para terminá-las em Passa Quatro (MG). “O disco tem um outro tempo, é um respiro. Uma coisa, realmente, de poder parar, olhar e sentir.
Não tem nenhum hit dançante. É um disco de imagem, de paisagem, de contemplação. No interior é isso, não passa nem avião, você fica olhando o céu, as montanhas, os pássaros, e não passa quase ninguém na rua. Tem vida acontecendo nas praças e nas casas, mas também um silêncio no meio da tarde, um silêncio absurdo”.
Essa atmosfera pouco ruidosa do som contrasta com a poesia que fala, com melancolia, de nostalgia, despedida e inquietações. Há um grito desesperado em Precisa Algo Acontecer, porém a maior parte é dita com calmaria. Lucas Gonçalves fala de temas difíceis com doçura.
Basta, single lançado no primeiro semestre de 2020, é a canção mais direta politicamente, é sobre chegar ao estopim da desesperança. Perceber que não há mais sentido no modo como os seres humanos dialogam entre si e com o planeta.
Toca na questão da demarcação das terras indígenas e critica a omissão da sociedade diante das opressões.
A trajetória autobiográfica que costura o disco fez com que Lucas Gonçalves elaborasse sobre sua própria finitude. Prece e Se Chover II são autoficções sobre a morte: uma fala sobre o último dia de sua vida e a outra é como uma escrita póstuma.
A morte aparece de uma maneira filosófica em “Se Chover”. O sol vai nascer outra vez encerra o disco deixando a vontade de querer viver tudo de novo. É sobre se encantar e se desencantar pela vida, se apaixonar por alguém e por si mesmo, num insaciável trajeto cheio de fins e recomeços. Entre dias de sol e de chuva, vive-se uma vida por inteiro.
Fotos: Créditos de Davi Guedes e Felipe Vieira.
Faixas: VERONA | LUCAS GONÇALVES
1. Abertura (pontes para fazer)
2. Subir a Serra (saudade é que nem neblina)
3. Amigos do Peito (+paraIso)
4. Antes do Sol (philips’s feeling)
5. Até (a chegada)
6. Ver-a-cidade (outra praça de ser)
7. Não me espere Lá (jardim dos leões)
8. Tempo Bom (êê saudade)
9. Diários de Bicicleta (estrada velha)
10. Abri del 74 (dia nublado)
11. DES (embarque)
12. Cadafalso (delírio)
13. Ar (domingo de manhã)
14. Manhã de domingo (a corda no meu pescoço)
15. Girata (contei buracos na estrada)
16. Para P4 (às suas esquinas)
17. Verona (.)
SE CHOVER | LUCAS GONÇALVES
01. Se Chover | 02. Na Bagagem | 03. Precisa Algo Acontecer | 04. Sol e Chuva |
05. Basta | 06. Temos Nós | 07. Prece | 08. Baixa a Poeira | 09. Se Chover II |
10. O Sol Vai Nascer outra Vez
Ficha técnica: VERONA
Gravado no departamento de Cordas, SP
Produzido por Lucas Gonçalves
Mixado por Lucas Gonçalves, Vitor Loureiro (faixa 2 e 6) e Luciano Tucunduva (faixa 12)
Masterizado por Otávio Carvalho (Submarino Fantástico)
Arte por Azevedo Lobo (Grão)
Arte da capa/ encarte por Davi Guedes e Felipe Vieira
A&R por Eduardo Lemos e Otávio Carvalho
Comunicação por Eduardo Lem
Ficha Técnica: SE CHOVER
Lucas Gonçalves: Produção, arranjos, voz, vocais, violão, bandolim, guitarra e baixo
Luciano Tucunduva: Produção, mixagem e percussão
Otavio Carvalho: Masterização
Pedro Lacerda: Bateria e percussão
Diogo Valentino: Baixo elétrico
Mali Sampaio: Baixo acústico
Filipe Castro: Percussão (conga, castanhola e meia lua)
Bruno Bruni: Piano acústico e elétrico
Michele Mello: Viola de arco
Paulo Costa: Violino
Raphael Evangelista: Violoncello
Beto Mejia: Flauta
Fabricio Gambogi: Arranjos em “Se Chover II”
Roger Turra: Arranjos em “Precisa Algo Acontecer”
Renato Medeiros: Produção e Mellotron em “Prece”
Kezo Nogueira: FlugelHorn
Ilustrações e projeto gráfico: Carolina Reis
Bordado: Tainá Denardi
Contatos de Imprensa
Eduardo Lemos – (11) 966011588 – eduardo@navegarcomunicacao.com.br
Pequeno Imprevisto – pequenoimprevisto@gmail.com
Carime Elmor – (32) 987066640 – carimelmor@gmail.com
Ouça o disco Se chover:https://linktr.ee/sechover
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https://www.youtube.com/channel/UCEufiq923F9ifMwQ6zVl6-w
Sobre o Pequeno Imprevisto:
Fundado em fevereiro de 2020 por Otávio Carvalho e Eduardo Lemos, o Pequeno Imprevisto lança discos e cria conteúdo. Em seu primeiro ano de atuação, lançou os álbuns “Presente”, “Sóis” e “Sóis – Remixed” de Luiz Gabriel Lopes; “Libre”, de Čao Laru, “Se Chover”, de Lucas Gonçalves; “Amazonon”, de Juliano Abramovay e “Quarto”, de Gustavo Galo. É do selo o projeto “Singles Imprevistos”, que reúne nomes da casa com autores
como André Abujamra, Biel Basile e Meno del Picchia, entre outros.
http://pequenoimprevisto.com.br/
Da Redação by Cleo Oshiro
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