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O dia de folga de domésticas em Singapura, no parque, irrita alguns moradores, que reclamam de barulho e lixo

Sem instalações projetadas para seu uso, as empregadas domésticas vão a lugares públicos para relaxar no dia de folga - e nem sempre são bem-vindas.

O dia de folga de domésticas em Singapura, no parque, irrita alguns moradores, que reclamam de barulho e lixo.

Sem instalações projetadas para seu uso, as empregadas domésticas vão a lugares públicos para relaxar no dia de folga – e nem sempre são bem-vindas.

É uma tarde de domingo nublado no Jardim Botânico de Singapura e as empregadas domésticas estrangeiras relaxam, sentadas em tapetes de piquenique. Música filipina alta é seguida por gargalhadas. Em outro grupo, uma guitarra é dedilhada e musicas são cantadas em bahasa, idioma da indonésia.

Aparentemente, um feliz dia de folga – mas nos bastidores é uma história diferente para muitas delas e para alguns moradores, insatisfeitos com a sua presença.

Wurgiyanti Siswanto, também conhecida como Gati, trabalha em Singapura para a mesma família há 15 anos. Originalmente de Banjarnegara, na província de Java Central, Gati diz que costumava trabalhar todos os dias, mas o Ministério da Mão-de-obra de Singapura tornou obrigatório, em 2013, que os empregadores dessem aos empregados domésticos um dia de descanso por semana.

Segundo estatísticas do Ministério, haviam 246.800 empregadas domésticas estrangeiras no país, no final de 2017, com a maioria da Indonésia e das Filipinas. Elas podem passar o dia de folga fora de casa, mas, como em Hong Kong, não há instalações como centros sociais, elas, então, reúnem-se em locais públicos.

O Jardim Botânico é um dos pontos de encontro mais populares, assim como o East Coast Park e, se estiver chovendo, o shopping center Lucky Plaza.

“Não passamos o dia todo”, diz Gati, que deixa a residência de seu empregador ao amanhecer e não volta até as nove da noite. “Vou à igreja de manhã, onde tenho atividades, até o serviço começar às 11h.”

“Depois disso, passamos a tarde relaxando, cantando e compartilhando juntas no parque.”

Nem todo mundo tem a mesma sorte que Gati. “Nem todas as empregadas tiram folgas”, diz ela.

A amiga de Gati, Rose, por exemplo, está tendo dificuldades em se adaptar ao novo empregador. Ela só tem permissão para dois dias de descanso por mês e não é compensada pelos dois domingos em que seu empregador a faz trabalhar. De acordo com a lei, as empregadas domésticas devem receber pelo menos um dia de salário ou um dia de descanso para reposição no mesmo mês.

Os empregadores que violarem a lei podem ser multados em até S $ 10.000 dólar de Singapura, equivalente a cerca de US $ 7.340, presos por até um ano ou ambos. Invariavelmente, a maioria das empregadas domésticas não buscam seus direitos, por medo de perder o emprego.

Agustina, de Manado, no norte de Sulawesi, também é empregada domésticas em Singapura há 15 anos. Ela diz que seus domingos começam com a faxina na casa de seu empregador, antes de ela sair para almoçar na parte da tarde. Ela volta para casa por volta das 8 da noite.

Uma de suas amigas interpõe: “Depende do patrão. Se for bule [ocidental], o seu dia de folga é o seu dia. Se for chinês, geralmente, você precisa trabalhar.”

Suas amigas riem alto de sua observação.

“Eu gosto de deixar a casa arrumada”, responde Agustina com um sorriso.

Gati diz que antes de se juntar a sua irmandade da igreja, ela encontrava-se com outras empregadas domésticas nos parques e shoppings. “Mas fica chato”, diz ela. “Desta forma, temos um propósito e usamos bem o nosso tempo.”

“Através de nossa irmandade, ajudamos e orientamos Rose com orações e discussões, para que ela possa se acostumar com seu empregador, ao mesmo tempo em que visualiza um quadro maior, e não apenas a curto prazo”, diz Gati.

Na lagoa das tartarugas, no Jardim Botânico, um grupo maior de domésticas, vestidas com uniformes verdes está praticando movimentos de dança com música alta. Também da Indonésia, esse grupo, de cerca de 30 pessoas é bastante barulhento e fala com entusiasmo.

Embora as empregadas domésticas não tenham mais para onde ir, suas grandes reuniões nem sempre são bem-vindas.

William Smith é um expatriado australiano em Singapura que emprega uma doméstica indonésia, para ajudar sua esposa a cuidar de seu filho, de um ano de idade. Ele costuma ir ao um parque com sua família, no fim de semana, e diz que gostaria que as domésticas também considerassem outros frequentadores do parque.

“O problema não é as domésticas passarem o tempo juntas, relaxando no parque. É bom que tenham um tempo de descanso, como todo mundo “, diz ele. “O problema é quando as pessoas estão agrupadas e não consideram outros frequentadores do parque.”

Smith diz que no parque, perto de sua residência, Mount Emily Park, em Sophia Hill, fica lotado de empregadas domésticas e trabalhadores da construção civil estrangeiros aos domingos.

“É tão lotado e barulhento que muitas vezes nos sentimos impedidos de passar o tempo lá”, diz ele.

Smith acrescenta que quando os grupos vão embora, há muito lixo no chão, apesar da ameaça de multas severas.

A Lei de Saúde Pública e Ambiental impõe uma multa máxima de US $ 2.000 para a primeira condenação por lixo, e até US $ 10.000 para as subsequentes.

“A música alta também é um incômodo”, acrescenta Smith. “Estamos todos do lado de fora, tentando aproveitar nosso tempo livre. Se quiserem ouvir música, talvez devessem usar fones de ouvido ou, pelo menos, reproduzi-las em um volume respeitável.”

A mídia local informou sobre várias queixas apresentadas por membros da comunidade, sobre poluição sonora e o lixo deixado pelas domésticas.

Em março, também foi registrada uma queixa contra manifestações públicas de afeto entre mulheres, trabalhadoras domésticas, e trabalhadores imigrantes do sexo masculino, na passagem subterrânea do Mass Rapid de Ang Mo Kio, no norte de Singapura.

De acordo com moradores, a passagem subterrânea se tornou um “ponto de acesso” para reuniões de trabalhadores estrangeiros, que passam o dia inteiro fazendo piquenique. Alguns moradores reclamaram que podiam ouvir o barulho de suas casas.

Várias ONGs em Singapura começaram a oferecer cursos de auto-aperfeiçoamento para trabalhadores imigrantes, como uma forma de tornar seus dias de folga mais produtivos. Os cursos vão desde cozinhar e costurar até poupar dinheiro e começar um pequeno negócio. Há também um clube de fitness, dirigido pela Associação de Trabalhadores Domésticos Estrangeiros para Apoio Social e Treinamento.

Hani é uma doméstica de 32 anos que vive em Singapura há sete anos – e trabalhou para famílias chinesas, malaias e expatriadas. Seu atual empregador é da Austrália.

Em seu dia de descanso semanal, Hani faz um curso administrado pela Aidha, uma ONG que fornece programas de treinamento em habilidades de desenvolvimento e alfabetização financeira.

As aulas na Aidha acontecem em domingos alternados e custam 200 dólares para um curso de seis meses. As pessoas que pagam por conta recebem uma taxa de desconto de S$ 150 para o curso. O empregador de Hani apóia seu estudo, pagando as taxas para ela.

Ela gosta de se sentir mais produtiva em seus dias de folga. “Eu fiquei entediada apenas por sair com amigos e não fazer nada aos domingos”, diz ela. “Dessa forma, tenho a chance de me aperfeiçoar e talvez começar minha própria pequena empresa quando voltar para a Indonésia.”

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