Hyldon: Cantor e compositor comemora 40 anos de sucesso com o álbum “A Origem”. Hyldon é considerado um dos principais nomes da música ‘soul’ brasileira e conta já com quinze álbuns editados. Da sua vasta discografia destaque para o disco «Soul Brasileiro», que foi colocado pela revista Rolling Stone nos melhores 25 álbuns de 2009 e contou com a participação de Chico Buarque, Zeca Baleiro, Carlinhos Brown e Frejat.
A nova geração conhece Hyldon na voz de outros intérpretes. Na década de 1990, suas canções clássicas, As dores do mundo e Na rua, na chuva, na fazenda, ganharam versões de Jota Quest e Kid Abelha. Hyldon revisita o seu primeiro álbum “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” e comemora 40 anos de sucesso com o álbum “A Origem”, que conta com versões das músicas do álbum de 1975, dessa vez em voz e violão. Confiram na integra no final da matéria.
Um dos grandes representantes da Soul Music Brasileira (ao lado de Tim Maia e Cassiano), o cantor, violonista e compositor baiano Hyldon nasceu em 17 de Abril de 1951 em Salvador – Bahia e aos seis meses de idade foi morar em uma cidade do sertão baiano, chamada “Senhor do Bonfim”, quase fronteira com Pernambuco. Lá viveu até os sete anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro e nesta época trocou um relógio que ganhou no seu aniversário por um violão com seu Tio Dermy. Doce ironia do destino: Hyldon nunca mais usou relógio e não largou mais o violão.
Em 1965, influenciado pelos Beatles e incentivado pelo seu primo Pedrinho (guitarrista do The Fevers), montou uma banda chamada “Os Abelhas”. Esta banda, formada com garotos da sua idade, fez muitos bailes em clubes de Niterói e cidades vizinhas, tocou em programas de rádio (Paulo Bob) e até na televisão no programa “A Festa do Bolinha” do Jair de Taumaturgo, na extinta TV Rio. Quando Hyldon estava empolgado com os caminhos que a sua vida estava tomando, sua mãe decide voltar para o interior da Bahia. Duro foi convencê-la que já havia decidido que sua vida seria viver da música e queria continuar morando no Rio. Como só tinha 16 dezesseis anos, sua mãe concordou com a condição de que ele só ficaria no Rio de Janeiro se fosse morar com seu primo em todos os lugares. A mão do destino então deu seu toque mágico. Certo dia, o outro guitarristas dos “Fevers”, o Almir, faltou à uma gravação, alguém sugeriu que o Hyldon o substituísse, apesar de nervoso e suando na mão, ele se saiu muito bem. A partir daquele dia, passou a ser o reserva oficial da Banda. Esta oportunidade propiciou o contato com estúdios, maestros, músicos e produtores, e assim Hyldon realizava seu sonho de entrar para o mundo da música.
Sua primeira música foi gravada quando ainda estava com (17) dezessete anos e seu primo e tutor Pedrinho precisou assinar o contrato de edição por ele. A música – “Eu me enganei” – era cantada pelo argentino Robert Livi e para surpresa de todos, foi um sucesso, chegando a atingir mais de 100 mil cópias vendidas.
Participou de festivais como intérprete e como autor chegando a tirar segundo lugar num dos festivais mais importantes daquela época o Festival de Juiz de Fora, defendendo uma música do compositor Hélio Matheus – Mês de fevereiro. Fez amizade com Cassiano e Tim Maia que o incentivaram muito a gravar suas música cantando. Começou então a separar material e fazer os arranjos. Depois de quatro anos de preparação, estava pronto pra gravar seu primeiro disco autoral, procurou mostrar para algumas gravadoras, mas depois de algumas respostas negativas concluiu que melhor caminho para gravar um disco próprio seria produzindo-o, decidiu procurar Jairo Pires (Polydor) e Mazola (Philips), selos que pertenciam a Polygram, hoje Universal para iniciar uma nova fase.
Hyldon havia arregimentado o pessoal do Azymuth para essa gravação, só que o cantor perdeu o avião para o Rio, Hyldon avisou pra técnicos e músicos: – Bem gente, como o Frank Land não vem gravar, nós vamos aproveitar essa brecha e vamos fazer o meu disco. Foi assim que finalmente, conseguiu gravar seu primeiro disco (um compacto – pequenos discos de vinil com duas músicas somente) que incluía a balada “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”. Em pouco tempo a música foi “descoberta” por diversos comunicadores e programadores de Rádios como Tamoio e Mundial do Rio de Janeiro e a Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Em 1975 um pouco depois do lançamento do seu primeiro disco que apesar do sucesso continuava sendo preterido nas verbas promocionais da sua gravadora, decidiu passar uns dias nos EUA, uns dias que viraram meses, a cidade escolhida foi Nova York pra ver shows dos seus ídolos, The Temptations, Al Green, Diana Ross, The Supremes ao vivo no Apollo Theatre no Harlem, templo sagrado do Soul Music.
Morrendo de saudade da família, dos amigos, da comida e fugindo do frio, Hyldon resolveu voltar dispensando um convite da Gravadora Polydor para gravar em Inglês, trouxe na bagagem um álbum duplo do Earth, Wind and Fire e presenteou cópias para seus amigos músicos inclusive, Caetano Veloso Caetano Veloso, que inspirado nesse grupo chamou a Banda Black Rio para gravar aquele disco que tem Odara e Gilberto Gil que compôs “Palco” e gravou com um som bem próximo do E.W.&F.
Hyldon e Tim Maia tinham gostos apostos enquanto o síndico preferia Ohio Players (Banda pouco conhecida no Brasil) Hyldon simplesmente achava a banda de Maurício White melhor até por que era latente no som da banda a influencia da música brasileira e ele sempre foi apreciador dessas quebras de protocolos musicais. Influenciado também pela era Disco que viu nascer na matriz, gravou a música “Estrada errada” no seu segundo álbum: “Deus, a Natureza e a Música” e compôs com o Síndico “A fim de voltar” para o Tim Maia Disco Club, o disco que tem sua guitarra em todas as faixas e a marca do seu balanço ficou perpetuado na dançante “Sossego”.
As divergências de “opiniões” entre ele e a diretoria da Polydor continuaram, fazendo com que trocasse de gravadora e fosse para a Sony, em 1977 sai o seu terceiro álbum “Nossa Historia de Amor” produzido por Hyldon & Alex Malheiros. Disco no qual participaram Dominguinhos, Ed Lincoln, Maurício Einhorn, Zé Bodega, Márcio Montarroyos, e teve arranjos de cordas do lendário Waltel Branco (que por sinal era preto).
Em 1982 participou da gravação “Velho Camarada” com Fábio e Tim Maia num compacto do Fábio pela Odeon, dois anos depois outro compacto seu é lançado pela Som Livre e uma das suas músicas entra na novela da TV Globo, com o nome de “Livre pra voar” como principal tema romântico, a música é Novas Emoções.
Em 1989 contratado por uma nova gravadora a Esfinge, grava um novo álbum, na época o produtor americano Wayne Handerson (ex–integrante do Cruzaders e produtor do Brother’s Johnson e Janet Jackson) entusiasmado pelo som do Hyldon leva a fita para mixar nos USA nos seus estúdios, o resultado ficou excelente, o disco tem ainda uma participação do cantor americano Alfonz Jones e uma parceria de Hyldon e Paulo Coelho (uma das últimas músicas do mago e velho amigo) e claro um time de primeira, na época o Azymuth estava excursionando pela Europa então foram convocados; Picolé – bateria, Luisão Maia – baixo, Tutuca – teclados, Paulinho Guitarra – guitarra e violões, Cidinho, Chacal e Léo – percussão, Paulinho Trumpete e Bidinho – sopros.
Em 1996 Kid Abelha grava e estoura novamente “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”, Hyldon participa do clipe que ganha vários prêmios e a Banda atinge a marca de 500 mil disco vendidos. No mesmo ano outra música sua volta aos primeiros lugares das Paradas, a música é “As dores do Mundo” que ganha uma nova versão da banda mineira Jota Quest.
Novos intérpretes têm redescoberto suas músicas Marisa Monte e Isabella Taviani cantam “Acontecimento”, Bandas novas como Vulgo Qinho e os Cara, FunkU, a Banda Iriê regrava “Vamos passear de bicicleta?”. Em 2002, refez o disco “Deus, a natureza e a música”. O LP que havia sido lançado em 1976 como último disco de contrato com a gravadora, apesar de ter contado com músicos importantes na época: Oberdan Magalhães e Robson Jorge (ambos já falecidos) e ainda Banda Black Rio, Azymuth, Ed Maciel, Jorginho da Flauta, Chacal, Tony Bizarro, Cristóvão Bastos e as cordas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro regidas por Mário Tavares, o LP ficou um pouco aquém na qualidade técnica, isso era um obstinação do Hyldon que quase três décadas depois voltou ao estúdio para corrigir esses deslizes, refez bases, colocou vozes de novo em algumas músicas além de incluir três faixas-bônus: “Táxi pra Bahia”, “Palavras de amor ao vento” e “Pelas ruas de Los Angeles”, músicas que sobraram do seu primeiro disco e ele achou pesquisando o arquivo da Universal.
Em 2004 montou uma Banda chamada Zona Oeste e de lá pra cá não para de se apresentar por esse Brasil a fora, Hyldon tem curtido muito essa volta aos palcos e o contato dos fãs, os antigos que eram adolescentes quando ele surgiu e os novos que vieram através das releituras dos seus sucessos, no momento prepara DVD para ser gravado no início do ano e termina de escrever um livro sobre os anos 70 com lançamento previsto também para 2007 pela Editora Axcel. Ainda em 2005 a gravadora Universal Music, em comemoração aos 30 anos de lançamento do primeiro LP (“Na Rua, na Chuva, na Fazenda”), lançou uma caprichada edição comemorativa, com um super encarte contendo todas as letras, ficha técnica, fotos inéditas e o melhor, Hyldon escreveu as deliciosas histórias sobre cada uma das faixas e ainda recicla duas das músicas mais conhecidas em remixes do BossaCucaNova.
Nos últimos anos vem aumentando o interesse no trabalho do Hyldon de novos artistas e um publico mais jovem têm comparecido aos seus shows e comprado seus discos, esse fenômeno de misturas de gerações pode ser comprovado em suas apresentações. Hyldon tem diversas canções em novelas, peças de teatro, espetáculos de dança (Deborah Colker) e filmes como “Cidade de Deus”, “Carandiru”, “Durval Discos”, “Homem do Ano”, “Paraíso Proibido” e Antonia (de Tata Amaral).
O trabalho mais recente de Hyldon foi o CD “Soul Brasileiro” e o DVD ao vivo em comemoração aos 35 anos do clássico álbum “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” . Zé Menezes, Karla Sabah, Alessandra Verney, Zé Américo, num total de 35 pessoas, divididas pelas 14 canções inéditas do CD.
Hyldon continua se apresentando em shows, levando o que existe de melhor em música de qualidade para um público que sabe prestigiar a boa música. Recentemente foi convidado para dividir o palco com o cantor francês com sotaque brasileiro, Nicola Són. Nicola Són acaba de lançar “Sampathique”, o terceiro álbum de uma trilogia dedicada ao Brasil, com produção de Paulo Lepetit.
O cantor se apresentou no Theatro Municipal de SP, na Virada Cultural em 21/05 e recentemente no programa Domingão do Faustão (TV Globo) para a alegria da sua eterna legião de fãs.
SOBRE O MAIS NOVO PROJETO DE HYLDON:
Hyldon revisita o seu primeiro álbum “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” e comemora 40 anos de sucesso com o álbum “A Origem”, que conta com versões das músicas do álbum de 1975, dessa vez em voz e violão.
Hyldon, mito do soul brasileiro, comemora os 4oº aniversário do seu primeiro álbum revisitando-o com voz e violão turbinados.
Soteropolitano radicado no Rio de Janeiro, Hyldon integra a Santíssima Trindade do soul brasileiro. Está ao lado de Tim Maia e Cassiano no mistério da fé. A posição de destaque na mitologia do balanço foi conquistada com o lançamento de “Na rua, na chuva, na fazenda”, de 1975, seu inspirado álbum de estreia. Ou melhor, antes disso. Afinal, por conta dos embates com a indústria fonográfica da época, o álbum só conseguiu chegar às lojas dois anos após o estouro do primeiro compacto simples. Com o espontâneo sucesso radiofônico de temas como “Na rua, na chuva, na fazenda (Casinha de sapê)” e, posteriormente, “As dores do mundo”, os burocratas descobriram o óbvio: diante de seus narizes, havia um verdadeiro estilista de sonoridades.
By: Rodrigo Carneiro
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