Moscou, Rússia, 19 de agosto de 2025, Reuters – Em meio a especulações sobre uma eventual proposta de “paz” para encerrar a invasão da Ucrânia, analistas ouvidos por diplomatas europeus e americanos avaliam que Vladimir Putin busca, na prática, a rendição total de Kiev. A leitura é de que o Kremlin tenta converter ganhos militares e políticos em imposições formais — desde limites permanentes à soberania ucraniana até exigências sobre território e alinhamentos estratégicos.
“Sem verificação robusta e custo imediato por violação, qualquer ‘tratado’ corre o risco de apenas congelar o conflito e premiar a força.”
O ceticismo não surge no vácuo. Kiev e seus aliados apontam um histórico de descumprimentos por parte de Moscou — do Memorando de Budapeste (1994), que oferecia garantias de segurança à Ucrânia após a renúncia ao arsenal nuclear, ao Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria Rússia–Ucrânia (1997), que previa respeito à integridade territorial e às fronteiras, além dos acordos de Minsk (2014–2015), concebidos para conter a violência no leste ucraniano. Esse passado pesa contra a confiança em qualquer novo compromisso.
O que está em jogo
- Exigências máximas: Sinais de que Moscou condiciona um acordo a concessões amplas de Kiev — fronteiras, status de territórios e limitações estratégicas — são vistos como tentativa de cristalizar no papel o que não foi obtido plenamente no campo de batalha.
- Garantias de segurança: A Ucrânia busca garantias efetivas para evitar futuras agressões. Sem mecanismos de defesa coletiva, prazos, inspeções e respostas automáticas a violações, um tratado pode se tornar letra morta.
- Sequenciamento e incentivos: Quem concede o quê, quando e sob quais verificações? Sanções, liberação de ativos e reabertura comercial são moedas de troca que precisam de “gatilhos” claros e reversíveis.
Por que seria diferente agora?
Para que um novo pacto tenha credibilidade, especialistas apontam requisitos mínimos: cláusulas de verificação independentes; monitoramento internacional contínuo; penalidades automáticas (snapback) em caso de violação; cronogramas vinculantes; e salvaguardas que impeçam o uso de um cessar-fogo como pausa operacional para rearmamento. Sem isso, o acordo tende a reproduzir o ciclo de promessas e rupturas.
“Tratar a Ucrânia como parte negociável reduz a chance de paz duradoura; aumenta a chance de conflito recorrente.”
Riscos de um “acordo” sem garantias
- Conflito congelado: Linhas de frente formalizadas podem legitimar ocupações e adiar, não resolver, as causas da guerra.
- Rearme silencioso: Sem limites verificáveis, lados podem usar a trégua para se fortalecer em ciclos sucessivos.
- Pressões internas: Custos políticos em Moscou, Kiev e capitais europeias influenciam a durabilidade de qualquer entendimento.
O que observar nas próximas negociações
- Arquitetura de verificação: Quem monitora, com que acesso e quais prazos.
- Gatilhos de sanção e reversão: Penalidades automáticas e mecanismos de restabelecimento.
- Escopo das garantias: Defesa aérea, inteligência, logística e assistência contínua à Ucrânia.
- Agenda humanitária: Corredores, trocas de prisioneiros e proteção a civis e infraestrutura crítica.
No balanço, a pergunta central permanece: se tratados anteriores que buscavam estabilizar a relação russo-ucraniana foram ignorados ou rompidos, por que um novo documento — sem garantias e custos tangíveis por violação — seria cumprido agora? Para especialistas, a resposta depende menos da retórica e mais do desenho institucional do acordo e da disposição internacional de fazê-lo valer.
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