Depois dos exercícios de artilharia, quais as intenções de Pyongyang?
A Coreia do Norte realizou exercícios de artilharia pesada, possivelmente os maiores da história do país, para marcar o 85º aniversário de fundação do exército do país. Falando à Sputnik, especialistas chineses e russos explicaram por que os exercícios podem ser um sinal de que Pyongyang está buscando algum tipo de diálogo com os EUA e seus aliados.
Os militares norte-coreanos fizeram treinos de artilharia de longo alcance no leste do país, perto da cidade de Wonsan, na terça-feira (25), marcando o 85º aniversário de fundação do Exército Popular Coreano.
Oficiais sul-coreanos disseram à agência de notícias Yonhap que os exercícios de fogo vivo foram monitorados de perto pelos militares sul-coreanos. Um relatório disse que entre 300-400 peças de artilharia foram utilizados nos exercícios. Fontes também indicaram que havia uma forte probabilidade de que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, estivesse assistindo aos exercícios.
Os exercícios coincidiram com os treinamentos conjuntos realizados pelos EUA e pela Coreia do Sul, ao largo da costa ocidental da península coreana. No contexto de uma tensa situação de segurança, os Estados Unidos enviaram o porta-aviões USS Carl Vinson para a região, com um submarino de propulsão nuclear também se juntando ao grupo de ataque.
Cerca de 28 mil soldados dos EUA estão, permanentemente, lotados na Coreia do Sul e Washington rejeitou, repetidamente, a assinatura de um tratado formal de paz com Pyongyang.
Legalmente, os EUA e a Coreia do Norte ainda estão em guerra, com as hostilidades mantidas à distância por um armistício, assinado em 1953, ano em que a Guerra da Coreia terminou oficialmente.
Na terça-feira (25), oficiais da Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos concordaram em aumentar a pressão sobre Pyongyang em relação aos testes nucleares e de mísseis em andamento, informou o representante Especial da Coreia do Sul para Assuntos de Paz e Segurança da Península Coreana, Kim Hong-kyun. Por sua vez, o representante especial dos EUA para a Política da Coreia do Norte, Joseph Yun, disse que na visão de Washington, está claro que a Coreia do Norte ainda não está pronta para o diálogo.
O aniversário de fundação do Exército Popular da Coreia, comemorado nesta terça-feira, foi aguardado com grande tensão pela comunidade internacional, que esperava alguma grande demonstração de força. Especialistas temiam que acontecessem novos testes nucleares ou de mísseis.
Zhan Debin, chefe do Centro para o Estudo da Península Coreana na Universidade de Negócios e Economia Internacional de Xangai, disse à Sputnik que o fato de que a Coreia do Norte tenha organizado exercícios de artilharia em vez de teste de mísseis ou nucleares, poderia ser uma indicação de que estão dispostos a dialogar.
“O fato de a Coreia do Norte não ter realizado testes nucleares, ou empreender algumas outras ações mais sérias pode ser considerado como uma tentativa de algum tipo de compromisso em face da pressão do mundo exterior”, explicou o especialista. Afinal, “se Pyongyang tivesse realizado testes nucleares, ou lançado um míssil balístico, teria se deparado com uma dura resposta da China e dos Estados Unidos”, acrescentou.
Pyongyang, observou Zhan, parece ter chegado a conclusão, bastante clara, de que testes nucleares, nas atuais circunstâncias seriam prejudiciais aos seus próprios interesses.
Por exemplo, “os testes nucleares poderiam afetar a situação em torno das eleições presidenciais na Coreia do Sul. Isso é algo que a Coreia do Norte também está ciente. Se a Coreia do Norte realizar mais testes, isso complicará a sua formação na política com Moon Jae-in, o candidato presidencial sul-coreano líder nas pesquisas, que será forçado a reagir mais severamente, o que por sua vez poderia enfraquecer sua abordagem anterior e mudar o tom de diálogo com Pyongyang. Portanto, se a Coreia do Norte tivesse avançado com seus testes nucleares, teria perdido mais do que ganhado”.
Por sua vez, Irina Lantsova, especialista em Ásia e EUA e professora na Universidade Estadual de São Petersburgo, também indicou que o fato de a Coreia do Norte ter conduzido exercícios de artilharia convencionais, em vez de testes nucleares de mísseis, era um bom sinal.
“No dia 15 de abril (o 105º aniversário de nascimento do fundador da Coreia do Norte, Kim Il Sung), Pyongyang marcou a ocasião com um desfile. Seu teste de mísseis não saiu do chão. Então, no dia 25 de abril, quando todo mundo esperava um lançamento ou um teste nuclear, eles fizeram algo que têm todo o direito de fazer, nas atuais circunstâncias”, (fazendo os exercícios de artilharia em vez disso).
Isso, de acordo com Lantsova, demonstra um senso de cautela de Pyongyang. “No final, todos engajaram-se, mas a situação na península coreana deve gradualmente voltar ao normal”.
A acadêmica sugeriu que a pressão adicional dos EUA, Japão e Coreia do Sul só servirão para agravar a situação. Em vez disso, os lados devem, de alguma forma, concordar em sentar-se na mesa de negociações.
“Mais pressão só vai convencer a liderança da Coreia do Norte de que eles precisam continuar a desenvolver seu programa nuclear. Vale a pena recordar a experiência das negociações a seis, realizadas no início de 2000, que serviu de plataforma para a interação com a liderança norte-coreana”. Hoje, estes foram esquecidos, de acordo com Lantsova. Mas, talvez, lembrar esta experiência possa ser uma boa ideia.
Zhan Debin enfatizou que, alcançar um avanço em seus testes nucleares continuará a ser um objetivo estratégico-chave para Pyongyang, não obstante qualquer pressão que a Coréia do Norte possa enfrentar da comunidade internacional.
“Essencialmente, se a Coreia do Norte for bem sucedida com um avanço nos testes nucleares, isso será de grande importância para o exército norte-coreano, sua unidade e moral”. Depois que o exército se fortalecer, o regime norte-coreano se tornará mais estável e seguro”, concluiu o especialista.
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