Recentemente, a América Latina passou por uma série de mudanças ligadas à transformação da sua orientação política. Aos poucos, os governos de esquerda se tornam uma realidade do passado. Agência Sputnick Brasil
Por que é que dizemos que estas mudanças estão decorrendo perante os nossos olhos? Primeiramente, as presidenciais na Argentina levaram à vitória do candidato do partido conservador Proposta Republicana, Maurício Macri.
Na Venezuela, nas eleições para a Assembleia Nacional, o partido oposicionista Mesa da Unidade Democrática teve a maioria. No Brasil algum acaba de ser decidido o impeachment da presidente (já ex-presidente) Dilma Rousseff. O establishment político da América Latina alterou-se, continua se alterando e, sem dúvida, a sua política mudará. Vamos considerar algumas áreas que verão maiores mudanças.
Primeiramente, há que dizer que os governos de esquerda em certos casos promoveram uma política populista, o que levou a problemas econômicos, como aconteceu, por exemplo, na Argentina. Agora, os novos governos terão que rever os antigos conceitos econômicos e aplicar novas medidas. Na opinião do analista político russo Aleksei Fenenko, o retorno dos políticos de direita significa o regresso à ideia de privatizações e de liberalização parcial da economia.
É possível que os novos governos recorram aos mecanismos de financiamento através do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou Banco Mundial. Além disso, afirmou Fenenko, as corporações transnacionais podem reiniciar a extração de recursos nestes países. Quanto à situação econômica interna, os governos de direita reduzirão as despesas sociais que eram uma caraterística-chave das políticas de esquerda. Por exemplo, o governo de Macri já cortou subsídios até valores mínimos.
Nos anos 2000, quando a esquerda latino-americana era bastante forte, o Brasil, a Venezuela e outros países da América Latina conseguiram evitar a criação da chamada Área de Livre de Comércio das Américas (ALCA) sob a liderança tácita dos EUA.
Os maiores êxitos integracionistas na América Latina dos últimos 20 anos foram o MERCOSUL, a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e a CELAC, que são blocos criados, além de outras coisas, para se opor à influência dos EUA. É pouco provável que estes blocos deixem de ser uma força regional. Entretanto, o MERCOSUL já está no meio de uma crise, que os países não se apressam a resolver. A Aliança do Pacífico, que não incorpora os maiores países da região – o Brasil e a Argentina – possui um potencial que ultrapassa o do MERCOSUL e UNASUL. Pelos vistos, estes blocos sob a liderança de novos governos irão desenvolver os laços com os EUA.
A saída dos políticos da esquerda do palco político latino-americano significa novas perspectivas para os EUA. Agora os Estados Unidos tentarão recuperar as posições que perderam durante os governos latino-americanos de esquerda. Ao mesmo tempo, Fenenko afirma que o Brasil e a Argentina nunca serão satélites dos EUA por causa do tamanho de suas economias e da sua influência.
O objetivo principal dos EUA será sempre manter estes dois países separados um do outro, evitando que se aliem. Quando os governos de esquerda estavam no poder, a China reforçou as suas posições nos mercados dos países latino-americanos e consolidou-se como o maior credor da região. Agora, os EUA tentarão expulsá-la da região.
A Rússia, que frequentemente gozava de apoio latino-americano em um leque de assuntos de política externa, também está em uma situação perigosa, diz o especialista russo em assuntos da América Latina, Pyotr Yakovlev. Há pouco, quando as sanções contra Moscou foram introduzidas, os países latino-americanos acordaram entrar no mercado russo.
Agora não há garantias de que, em uma situação parecida, a América Latina seja unânime no seu desejo de ajudar. Yakovlev afirmou que Washington tem o que não possuem os seus adversários – a Rússia e a China – e que pode interessar a América Latina: altas tecnologias. Tudo isso permitirá aos EUA atingir o seu desejo de há muito – ter acesso aos recursos dos seus vizinhos mais próximos.
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