O alarmante progresso nuclear da Coreia do Norte. Em meio a todo o barulho dos teste nucleares, como os cientistas avaliam a capacidade da Coreia do Norte para lançar um ataque nuclear contra os seus vizinhos ou nos EUA?
O quarto e quinto testes nucleares, este ano, geraram uma espiral de retórica assustadora – tanto de Seul quanto de Pyongyang, que dizem, irão reduzir a cinzas um ao outro.
Mas qual é, realmente, a situação científica? Tirando toda a retórica apocalíptica de Kim Jon-un, o que ele poderia fazer? E quando?
Existem diferentes componentes em um arsenal nuclear: precisa de uma ogiva pequena o suficiente para ser instalado em um míssil, e permanecer intacta até atingir o alvo. E, claro, os próprios mísseis, pequenas e móveis o suficiente para evitar serem destruídos, preventivamente, se os preparativos para o lançamento forem detectados – daí a importância de submarinos.
Um longo caminho
O prof. Siegfried S. Hecker, da Universidade de Stanford, na Califórnia, é um ex-chefe do Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, e visitou as instalações nucleares da Coreia do Norte, com freqüência.
Ele diz que, após o quinto teste nuclear, de sexta-feira: “Com os dois testes nucleares bem sucedidos este ano, devemos supor que a RDPC [Coreia do Norte] concebeu e demonstrou que as ogivas nucleares que podem ser montados em alguns dos seus mísseis de curto e médio alcance.
“Sua capacidade de mobilizar um ICBM (míssil balístico intercontinental), equipado com uma ogiva nuclear capaz de atingir os Estados Unidos ainda é um longo caminho – talvez dentro de cinco a dez anos, se o programa continuar.”
Isto significa que já existe um perigo real em sua opinião. Erros de cálculo na região tornam-se muito mais prováveis do que a Coreia do Sul, Japão e os Estados Unidos temem e ataques preventivos tornam-se muito mais prováveis.
O prof. Hecker também se preocupa que a capacidade tecnológica da Coreia do Norte aumente a probabilidade de propagação de armas nucleares [tecnologia e materiais] para “atores não-estatais” – ou “terroristas”.
Ele disse que: “Muito mais preocupante, agora, é que os seus recentes sucessos nucleares e de mísseis podem dar a Pyongyang uma falsa sensação de confiança e mudar radicalmente a dinâmica da segurança regional. A provável capacidade da RPDC em disparar armas em qualquer alvo na Coreia do Sul e Japão, e até mesmo em instalações norte-americanas no Pacífico, complica muito a imagem militar regional.”
O professor continua, dizendo que não podemos “descartar que uma liderança, financeiramente desesperada, possa arriscar a venda de materiais físseis ou outros ativos nucleares, talvez a atores não-estatais – terroristas”.
A Coreia do Norte possui quantas ogivas?
O prof. Hecker visitou a centrífuga nas instalação de Yongbyon (onde o material é produzido), em novembro de 2010. Com base no equipamento que viu e sua avaliação de estoques de urânio e plutônio, ele acha plausível que a Coreia do Norte tenha “um estoque de material físsil suficiente para aproximadamente 20 bombas, até o final deste ano, e uma capacidade de produzir cerca de sete por ano”.
Um dos componentes essenciais de um arsenal nuclear eficaz é a capacidade de ocultar os mísseis, de modo que não possam ser destruídos antes do lançamento. Assim, o teste de mísseis lançados por submarinos tem sido, particularmente, preocupante para os inimigos da Coreia do Norte.
De acordo com o engenheiro aeroespacial, John Schilling, que é especialista em tecnologia de mísseis: “O sucesso do mais recente teste de míssil balístico, lançado de submarino, da Coreia do Norte (SLBM) sugere que o programa pode estar progredindo mais rápido do que o inicialmente esperado.”
“No entanto, isso não significa que ele estará pronto na próxima semana, no próximo mês, ou até mesmo no próximo ano. Em vez disso, o ritmo e método de teste do SLBM da Coreia do Norte sugeriria uma eventual capacidade operacional inicial até o segundo semestre de 2018, o mais cedo”.
A Coreia do Norte também está fazendo progressos em mísseis disparados da terra. Testes tem sido frequentes, este ano, e as distâncias tem aumentado.
Em junho, por exemplo, houve o disparou de um míssil que atingiu uma altitude de 1.000 km (620 milhas), foi disparado, provavelmente, para o alto, a tempo de evitar o Japão (uma ação que teria sido muito provocativa), mas a distância percorrida impressionou Jeffrey Lewis, do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, na Califórnia.
“Isso sugere que o míssil funcionou perfeitamente. Se tivesse sido disparado no seu ângulo normal, alcançaria o seu limite, tranquilamente”, disse ele.
Há outros pedaços do quebra-cabeça, como a capacidade de fazer materiais tolerantes ao calor para ogivas, que permitam sair e voltar para a atmosfera sem afetar as bombas, até que estas atinjam o alvo. A Coréia do Norte afirma ter feito isso.
O resultado da análise científica mais convincente é que a Coréia do Norte pode ter a capacidade para lançar ataques nucleares na região, no momento, mas não para atacar alvos mais distantes, como os Estados Unidos.
Mas está chegando lá, e pode ter essa capacidade a partir de 2020, talvez alguns anos mais tarde, embora os cientistas acreditem que esta não é mais uma perspectiva remota.
O prof Hecker, amplamente visto como a maior autoridade em mísseis nucleares da Coreia do Norte, também tem pontos de vista sobre a política.
“O mais recente teste nuclear demonstra, conclusivamente, que a tentativa de punir a Coreia do Norte com sanções econômicas e esperar que a China exerça influência sobre o programa nuclear de Pyongyang não funcionaram”, disse ele.
“Aumentar as sanções e adicionar defesas contra mísseis na Coreia do Sul para esse fim, também, não será suficiente e fará com que a China seja menos provável de cooperar.
“O que está faltando é a diplomacia, mesmo que Washington ache ser repugnante lidar com o regime de Kim.”
By Stephen Evans
BBC News, Seoul
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