7 C
Kóka
terça-feira, 2024/04/16  11:19
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Japão: A falta de educação pode formar ciclo de pobreza para crianças estrangeiras

Japão: A falta de educação pode formar ciclo de pobreza para crianças estrangeiras. Um número considerável de crianças estrangeiras, no Japão, podem não estar frequentando a escola, em parte devido à negligência dos governos locais, segundo uma pesquisa da Kyodo News.

Quando as crianças não estão matriculadas em escolas públicas, os governos locais investigam por que, pois, talvez, estejam frequentando escolas particulares. Mas a pesquisa da Kyodo encontrou muitos governos locais que não acompanham as crianças estrangeiras, alegando que a educação obrigatória de crianças, no Japão, não se aplica a eles.

A pesquisa abrangeu os governos municipais, nas capitais e cidades de 72 grandes cidades provinciais com grandes populações estrangeiras, e encontrou 41 delas que não confirmaram se as crianças estrangeiras foram matriculados em escolas públicas ou outras.

Entre as cerca de 100.000 crianças estrangeiras registradas, em idade escolar obrigatória, em todo o país, esses 41 governos municipais não tinha confirmado a frequência escolar de mais de 10.000 delas.

Não se sabe se as crianças podem estar frequentando escolas particulares para estrangeiros, ou se deixaram o Japão com suas famílias sem informar os governos locais, “Este é um grande problema, que muitos municípios nem sequer realizam investigações”, disse Eriko Suzuki, professor da Universidade Kokushikan, que é bem versado na educação para os estrangeiros.

A negligência viola os Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos e a Convenção sobre os Direitos da Criança, e pode forçar muitas crianças ao isolamento social, disseram especialistas, ao mencionar estes 41 municípios, que devem lidar melhor com a questão.

Os 41 governos locais incluem grandes cidades como Chiba, Yokohama e Osaka, bem como alguns dos 23 bairros de Tóquio, cada uma delas lar de centenas das mais de 1.000 crianças estrangeiras cuja frequência escolar não foi confirmada.

A pesquisa também descobriu que 17 governos municipais acompanham, apenas parcialmente, a frequência escolar das crianças estrangeiras, através da realização de enquetes sobre os alunos e transferências do primeiro ano. A prefeitura da cidade de Nagoya, disse que envia um questionário para as famílias que não inscreveram alunos do primeiro ano em escolas locais, mas não recebe resposta de muitos.

Kobe, Hamamatsu e 12 outros governos municipais acompanham, cuidadosamente, a frequência escolar das crianças estrangeiras. Alguns enviam funcionários para falar com as famílias estrangeiras, se seus filhos não estão na escola, para encorajar a frequência. E o governo de Hamamatsu tem como alvo a matrícula escolar de todas as crianças estrangeiras.

No entanto, muitos governos locais não rastreiam a matrícula escolar de crianças estrangeiras devido à política do governo central, de aplicação da educação escolar obrigatória apenas para os japoneses.

Porém, os especialistas lembram que muitas crianças estrangeiras residem, permanentemente, no Japão, e alertam para a presença de muitas sem instrução, se deixadas de lado, poderiam gerar efeitos desestabilizadores sobre a sociedade japonesa.

Muitos governos municipais disseram que aceitam crianças estrangeiras em suas escolas públicas, quando as matrículas são efetuadas. No entanto, alguns pais se recusam a mandar as crianças para a escola por razões econômicas ou outras. E isso, dizem os especialistas, poderia afetar seriamente o seu futuro e levar a um ciclo de pobreza entre os estrangeiros residentes no Japão.

“Eu não posso trabalhar em tempo integral porque não fui para a escola, embora eu acredite ser mais hábil do que os trabalhadores regulares da minha idade”, lamentou Silas Alves Okada, um nipo-brasileiro de 26 anos. Como um trabalhador temporário, “Eu me sinto desgostoso porque tenho sido, repetidamente, dispensado após o término dos meus contratos de trabalho.”

Okada chegou ao Japão com sua família quando tinha 6 anos de idade e frequentou escolas primárias e ginasiais na Província de Gunma. Mas parou de ir à escola depois de se mudar para o dormitório de uma sociedade cristã em Sendai, Província de Miyagi, durante as férias de verão, quando ele era um estudante do primeiro ano do colegial.

“Eu me culpo”, disse Okada, repetidamente. Enquanto que seus pais não se entusiasmaram em enviá-lo para a escola, Okada também disse que sofreu bullying e decidiu que seria “sem sentido estudar duro no Japão.”

“Eu queria ir para a escola”, disse Lucas Toshio Suzuki, um colega de trabalho, nipo-brasileiro, de Okada. “Eu acho que poderia ter evitado o trabalho duro, deste tipo, se tivesse ido para a escola.”

Suzuki, 23 anos, que chegou ao Japão quando tinha 9, frequentou uma escola particular para crianças brasileiras em Gunma, mas parou quando tinha 14 anos, porque seus pais não podiam pagar as mensalidades. Ele queria ir para uma escola pública local, mas seus pais se opuseram, pois tinham ouvido falar sobre o bullying.

Okada está determinado a enviar seu filho, de 1 ano de idade, para a escola no Japão, no futuro, temendo que muitas crianças nipo-brasileiras serão incapaz de escapar da pobreza sem uma educação adequada.

Os governos locais não podem pesquisar a freqüência escolar das crianças estrangeiras pois existem restrições orçamentária e falta mão de obra. Mas todos os municípios da Província de Shizuoka, entre outros, têm realizado pesquisas e incentivam os pais a mandar seus filhos para a escola.

A sociedade japonesa tornou-se mais diversificada, devido à presença de muitos estrangeiros em vários campos. É imperativo dar suporte para o crescimento de jovens como bons cidadãos, através da educação, independentemente das nacionalidades.

“Para as crianças, a educação obrigatória é absolutamente necessária, para aprender as regras sociais também”, disse o professor Suzuki.

Fonte: Japan Times http://www.japantoday.com/category/lifestyle/view/lack-of-education-may-form-cycle-of-poverty-for-foreign-kids-in-japan