Pronto ou não, o Japão a caminho de tornar-se uma nação de imigrantes. O que temos aqui? Um artigo repleto de atitudes esclarecedoras em relação à imigração, a partir de uma publicação mensal com “tabu” em seu nome. Mas sendo uma revista que prospera em controvérsia, a edição de dezembro da Jitsuwa Bunka Tabuu, que foi colocada à venda em 16 de outubro, destaca-se por um artigo de quatro páginas intitulado: “Quão esplêndido o Japão de imigrantes se tornará!”
O artigo ainda afasta as preocupações com um declínio na ordem pública, devido ao afluxo de estrangeiros, uma declaração corajosa, considerando que há apenas um mês, um peruano de 30 anos foi detido pela polícia por suspeita de assassinar seis pessoas na cidade de Kumagaya, Saitama-Ken.
O artigo está assinado por “Kunihiko Date”, um nome que parece ter sido tirado do protagonista de uma novela 1958, do falecido autor Haruhiko Oyabu. Date aponta os esforços por parte do governo para tornar o Japão mais hospitaleiro para com os imigrantes, com uma lei que estabelece “zonas especiais estratégicas nacionais” – que provê incentivos aos estrangeiros que se mudam do exterior para cá – tendo sido aprovada em Dezembro de 2013. Além de seis zonas em Tóquio e outras grandes áreas urbanas, três novas zonas foram posteriormente designada em Miyagi, Aichi e Akita, aumentando o total para nove.
Embora assuma-se que a maioria dos recém-chegados sejam de países asiáticos, um aumento de imigrantes de países europeus como a Grécia, com sua economia moribunda, não poderia ser descartada.
Os opositores à imigração, particularmente os políticos conservadores e membros de grupos de direita, argumentam que “O Japão é um país de um único grupo étnico, não pode absorver facilmente as pessoas de outras culturas.” Esses grupos argumentam que um influxo de estrangeiros resultará em um declínio na ordem pública e trará impacto negativo sobre o emprego.
Date retruca que, os próprios japoneses são uma mistura de muitos grupos diferentes, incluindo o Ainu, no norte de Honshu e Hokkaido e Ryukyu povos em Okinawa. Ao longo dos milênios outros vieram aqui do continente asiático e da península coreana e chinesa. Hindus e mongóis, que misturaram-se às pessoas do Pacífico sul, como os polinésios e melanésios. A partir de rituais tradicionais e festivais, os antropólogos têm reunido uma notável diversidade de origens, o que também pode explicar a propensão japonesa a adotar várias religiões.
Pela mesma razão, é improvável que um incidente terrorista como o que teve lugar na sede da Charlie Hebdo, na França, em janeiro passado, iria ocorrer no Japão, porque um povo mais tolerantes estão menos inclinados a discriminar outras religiões.
Quanto aos imigrantes afetarem os empregos, Date aponta para estatísticas salariais para os trabalhadores nos Estados Unidos entre 1990 e 2004, de quatro categorias, a única que houve declínio líquido foi de “desistentes do ensino médio”. As outras três categorias, na verdade, cresceram a uma média de 1,8%.
O argumento que supera todos os outros é que a imigração é boa para a economia. De acordo com uma projeção estatística do governo da população do Japão, emitido em Janeiro de 2012, se as tendências atuais se mantiverem, a população diminuirá dos 128,06 milhões em 2010 para 86 milhões em 2060, com pessoas com mais de 65 anos representando 40% do total. Mais preocupante, a população laboralmente ativa – para efeitos estatísticos, pessoas entre as idades de 15 e 64 anos – cairá de 82 para 44 milhões. E projeções sombrias, semelhantes, para o setor de serviços e agrícola.
O grupo de reflexão da Nomura Securities estimou que se o Japão aceitar 100.000 imigrantes por ano, suas receitas e despesas em 30 anos, ficaria com saldo positivo, no montante de 3,8 trilhões de ienes. Uma vez que o número anual, atualmente, a ser contemplado é de 200.000, é provável um aumento proporcional dos benefícios econômicos.
Date lembra aos leitores que em 2025, devido ao envelhecimento da população proveniente do baby-boom do Japão pós guerra, será necessário um adicional de 500.000 enfermeiros e 1 milhão de caregivers. O déficit de trabalhadores só poderá ser conseguido a partir do estrangeiro.
Ainda assim, os estrangeiros podem contribuir para a nação de muitas maneiras. Alguns podem, eventualmente, acabar servindo o país nas Forças de Auto Defesa do Japão. Através de casamento com japonês, eles vão trazer a diversidade, não só para o pool genético da nação, mas para sua cultura também. Assim como os americanos fizeram pizza, massas, biscoitos, tacos e aveia, o Japão pode esperar mudanças em sua cultura alimentar. E a longo prazo, em sua linguagem também.
Um possível efeito colateral do novo paradigma pode ser que as minorias que eram os alvos de discriminação no passado, tais como coreanos, vão misturar-se a tal ponto que o problema simplesmente desaparecerá.
O ex-primeiro-ministro Yukio Hatoyama fez a seguinte observação: “O arquipélago japonês não é propriedade exclusiva do povo japonês.” No futuro não muito distante, a observação de Hatoyama poderá soar verdadeira de uma forma que nenhum de nós poderia ter imaginado.
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