The Wall Street Journal Imagem: ipog.edu.br
As empresas japonesas estão correndo para preencher milhares de assentos nos seus conselhos depois que uma nova regra de governança corporativa entrou em vigor neste mês, exigindo que companhias de capital aberto apontem pelo menos dois conselheiros independentes no período de seis meses após sua próxima assembleia de acionistas. É uma mudança significativa para o Japão, onde os conselhos de administração sempre foram compostos, na grande maioria, por executivos homens pertencentes às próprias empresas.
Essa transformação corporativa, um dos pilares do plano de recuperação econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe, visa tornar os líderes das empresas mais responsáveis por suas decisões perante os acionistas, cujos interesses foram frequentemente ignorados no passado. Investidores de fora do Japão reagiram bem às mudanças, ajudando a alçar o índice de ações Nikkei a um pico de 15 anos.
Abe também tem defendido o aumento no número de mulheres no alto escalão das empresas, mas não chegou a exigir das companhias uma presença feminina nos seus conselhos.
Até poucos anos atrás, mesmo muitas multinacionais japonesas, como a Toyota MotorCorp. 7203.TO +0.01% e a Canon Inc., CAJ -0.74% não tinham membros externos em seus conselhos. As lideranças empresariais do Japão há muito se opõem à cota de conselheiros independentes, argumentando que eles geralmente não têm conhecimento suficiente das operações das empresas para serem eficazes.
O novo código de governança ainda fica bem atrás das regras dos Estados Unidos, que exigem que membros externos ocupem a maioria dos assentos dos conselhos. O código japonês não é obrigatório, mas determina que as empresas apresentem uma explicação por escrito caso não sigam as regras.
A maioria das empresas japonesas está se empenhando para se adequar ao novo código, buscando em todo o mundo profissionais que possam dar um ar mais fresco ao seus conselhos — e menos masculino.
“De repente, todas as empresas querem encontrar pelo menos uma mulher e pelo menos um estrangeiro para colocar nos seus conselhos”, diz Nicholas Benes, que dirige o Instituto de Treinamento de Conselheiros do Japão, um dos vários grupos que fornecem treinamento para membros de conselhos.

O Japão não está sozinho nos seus esforços para diversificar conselhos. Vários países europeus — inclusive a Alemanha, onde leis foram aprovadas em março — estabeleceram um percentual dos assentos dos conselhos que devem ser ocupados por mulheres. Desde 1o de abril, empresas com ações negociadas em bolsa na Índia são obrigadas a ter pelo menos uma mulher no conselho, regra que algumas firmas estão cumprindo ao convocar esposas e parentes de executivos. No Brasil, embora ainda não haja regras específicas, a questão da diversidade nos conselhos também vem sendo discutida, segundo o IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
No Japão, cerca de 75% das quase 1.800 empresas listadas na primeira seção da Bolsa de Tóquio tinham pelo menos um conselheiro externo em junho do ano passado, comparado com menos de 35% dez anos antes, segundo a Associação de Conselheiros Corporativos do Japão. Menos de 3% dos assentos dos conselhos japoneses são ocupados por mulheres, segundo a Spencer Stuart, uma consultoria de busca de executivos. Isso se compara a 16% das empresas do índice de 1.500 companhias da Standard & Poor’s nos EUA, segundo a Institutional Shareholder Services, uma firma que orienta acionistas a votar em assembleias.
Considerando que possui cerca de 3.500 empresas listadas em bolsa, o Japão deveria ter uma ampla disponibilidade de executivos que poderiam atuar como conselheiros independentes em outras companhias. Mas, ao contrário das empresas americanas e brasileiras, por exemplo, que geralmente consideram a atuação nos conselhos de outras firmas como uma experiência útil, as empresas japonesas não veem essa atividade paralela com bons olhos. Executivos geralmente passam toda a sua carreira numa única empresa, frequentemente trabalhando como consultores remunerados para seu ex-empregador depois que se aposentam.
Assim, algumas empresas estão abordando pessoas sem experiência em conselhos, e elas estão frequentando cursos de treinamento de conselheiros para se familiarizarem mais rapidamente com a posição.
As nomeações mais recentes no Japão, ainda sujeitas à aprovação em assembleias de acionistas neste mês, incluem pessoas com níveis amplamente diferentes de experiência em empresas e finanças. Arthur Mitchell, consultor sênior do escritório de advocacia White & Case e ex-consultor geral do Banco Asiático de Desenvolvimento, foi convidado pelo grupo financeiro Sumitomo Mitsui Financial Group Inc.8316.TO +0.22% Já a Lixil Corp. 5938.TO -0.73% , fabricante de artefatos para banheiros e edifícios, nomeou Barbara Judge, ex-comissária da comissão de valores mobiliários dos EUA, a SEC.
A gigante dos eletrônicos Fujitsu nomeou Chiaki Mukai, a primeira astronauta japonesa. A rede de restaurantes Gourmet Kineya Co. escolheu Yuko Ezure, jornalista de rádio e televisão.
Os novos conselheiros vão ter bastante trabalho. Enquanto os conselhos de países como EUA se concentram em questões estratégicas e costumam se reunir trimestralmente, os conselhos do Japão lidam com assuntos da rotina diária e se reúnem com mais frequência. No ano fiscal encerrado em março de 2014, a varejista de eletrônicos Yamada-Denki Co. realizou 58 reuniões de conselhos, embora tenha reduzido para 20 no ano seguinte.
(Colaborou Luis Garcia.)
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