Fundadora de NPO (Non Profit Organization) luta pelas crianças asiáticas vítimas de abuso sexual. Quando Sayaka Murata visitou o Camboja, na época em estava na universidade, ela ficou chocada ao ver uma menina em torno de 5 ou 6 anos de idade entre as que haviam sido resgatadas, depois de serem torturadas com choques elétricos e forçadas a entrar no comércio sexual.
Murata, 34, fundadora de uma organização sem fins lucrativos com sede em Tóquio, que está trabalhando para acabar com o tráfico humano, disse que o encontro despertou sua determinação de proteger as jovens que enfrentam o mesmo destino.
“No Japão, o problema do tráfico de crianças para fins de sexo não é mencionado ou amplamente divulgado pela mídia,” lamentou Murata, em uma recente entrevista ao The Japan Times. “Os japoneses tendem a evitar falar abertamente sobre as crianças que estão sujeitas ao abuso sexual… mas cerca de 1,8 milhões de crianças ainda são exploradas em todo o mundo “, disse Murata.
Seu grupo, Kamonohashi Project, ajuda a proteger as vítimas de exploração e evita que as crianças sejam alvo na Índia e Camboja. Murata acredita que se pessoas como ela falarem, elas podem fazer a diferença.
Murata nasceu e cresceu em Tóquio, mas cresceu em um ambiente onde as trocas interculturais ocorrerem naturalmente, porque sua família, muitas vezes, hospedava estudantes de intercâmbio de outras partes da Ásia.
No ensino médio, Murata começou a demonstrar um grande interesse em como o Japão utilização a assistência oficial ao desenvolvimento, e, esforços semelhantes por parte de grupos não-governamentais. Isto a levou a questionar a eficácia e a natureza da distribuição da ajuda com base nos interesses do governo japonês, que não coincidem com as verdadeiras necessidades dos países pobres.
Em 2000, Murata entrou na Universidade Ferris, instituição de ensino privado, para mulheres, em Yokohama, para estudar relações internacionais e assistência ao desenvolvimento. Ela inspirou-se a procurar outras maneiras de acabar com atos desumanos nos países em desenvolvimento depois de assistir a uma palestra de Jody Williams, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 1997, em sua campanha para banir as minas terrestres.
Em 2001, durante as férias de verão, ela viajou para o Sudeste Asiático, onde as crianças são vítimas fáceis de armadilhas do tráfico, quando seus pais as enviam para as grandes cidades para serem babás e outros trabalhos, para uma renda extra.
Murata visitou dezenas de grupos locais e abrigos para as vítimas de tráfico humano, onde pode presenciar jovens que vivem com o HIV, algumas herdadas de mães que tinham sido vendidas a bordéis, lutando para reconstruir suas vidas destroçadas.
Em seu livro de 2009 “Ikutsumono Kabe ni Butsukari Nagara” (“Enfrentando muitos obstáculos”), Murata descreve sua luta para trazer a mudança em países pobres.
Como estudante, ela começou a fazer lobby para aumentar a conscientização sobre o tráfico de crianças e deu palestras em muitas partes do Japão.
Ela fundou o Projeto Kamonohashi em 2002 com estudantes da Universidade de Tóquio, Kenta Aoki e Keisuke Motoki, que foram inspirados por suas iniciativas.
O grupo decidiu, inicialmente, ajudar as crianças a aprender novas habilidades para que elas pudessem encontrar um emprego normal e sustentar suas famílias, oferecendo formação em informática para mais de 100 órfãos.
Mas Murata estava mais interessada no apoio de longa duração, especialmente para meninas e mulheres jovens em áreas rurais, que correm maior risco.
Ela acreditava que o fornecimento de postos de trabalho, a nível local, ajudaria a eliminar a exploração e trazer benefícios econômicos imediatos.
No início de 2007, em um convênio com um grupo local sem fins lucrativos, o Projeto Kamonohashi estabeleceu a chamada Fábrica Comunitária em Siem Reap, no Camboja. A primeira fábrica foi fechada depois de alguns anos, mas o grupo estabeleceu uma segunda na província, em 2008, para fornecer capacitação em manufatura.
A fábrica, equipada com mesas e máquinas de costura, mostra às mulheres como fazer artesanato tradicional usando palha, que no Japão é usada para fazer tatami. A venda dos produtos permite que as mulheres possam ganhar dinheiro suficiente para criar seus filhos em casa e enviá-los à escola.
Os funcionários ganham o equivalente a cerca de US $ 90 por mês, e seus produtos – desde bolsas a capas de livros e estojos de lápis e canetas – são vendidos em várias lojas e hotéis no Camboja e até mesmo no aeroporto de Narita, em Tóquio, Japão.
Junto com a Fábrica da Comunidade, o Projeto Kamonohashi, também, introduziu um programa de alfabetização para ajudar os trabalhadores a lidar com as ordens e evitar serem enganado pelos clientes.
A iniciativa tem agora a confiança da comunidade e está ajudando a mudar a vida de muitas mulheres cambojanas.
Para uma delas, a fábrica representou a primeira oportunidade de obter renda pelo seu trabalho, depois de viver na miséria como a mais nova de sete crianças órfãs. Sua irmã mais velha cometeu suicídio depois que seu irmão, deficientes, foi assassinado por pessoas de sua própria aldeia.
A fábrica, desde então, treinou cerca de 200 mulheres, e cerca de 70 delas continuam a trabalhar lá. Algumas das que completaram o curso de formação de dois anos, perseguem, agora, carreiras em outras empresas ou estão iniciado o seu próprio negócio.
Espera-se que a receita da fábrica comunitária seja algo em torno de ¥ 37.570.000 para o ano que termina em março.
Embora o problema do tráfico sexual no Camboja tenha, recentemente, melhorado e as leis para proteção das vítimas tenham sido reforçadas em 2008, o grupo de Murata tem organizado sessões de formação para policiais desde 2009, para ajudá-los a detectar o tráfico sexual e melhorar a sua resposta.
Seus esforços não passaram despercebidos.
Em 2011, o grupo foi premiado com o “Japan Foundation Prizes for Global Citizenship” pelo seu trabalho.
No ano seguinte, o Projeto Kamonohashi, com mais de 50 empregados, entrou na Índia, onde a exploração sexual continua a crescer.
“Cerca de 70 por cento das vítimas na Índia são vendidas por pessoas conhecidas, incluindo membros da família”, disse Murata.
O Projeto Kamonohashi estabeleceu uma rede nas duas maiores áreas onde mulheres jovens são traficadas: o Estado de Maharashtra, no oeste, e o Estado de Bengala Ocidental, no leste. A maioria são vendidas em torno de Mumbai, também no oeste.
A rede envolve-se em esforços para resgatar as vítimas dos bordéis e fornecer-lhes apoio jurídico e psicológico, para lidar com o estresse e testemunhar em um tribunal.
Mas os casos de tráfico são difíceis de detectar e processar porque o testemunho das vítimas é, muitas vezes, a única evidência, disse Murata, observando que as estatísticas podem ser desanimadoras, mas variam de região para região.
Murata observou que na Índia, muitas vítimas de exploração sexual desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático e também acabam sendo estigmatizados como sujas ou sem valor.
“Elas correm o risco de ser vítimas de discriminação, como se fossem criminosas”, se decidirem falar, disse Murata. “Elas são, muitas vezes, forçadas a deixar suas cidades natais ou parar de frequentar a escola. Elas não podem pensar sobre o seu futuro. “
Só em 2013, o grupo ajudou a resgatar 163 vítimas indianas, das quais 24 receberam apoio de reabilitação psicossocial. Em 2014, 87 vítimas receberam apoio jurídico e psicológico.
Entre aquelas que receberam apoio do Projeto Kamonohashi estava uma jovem de 15 anos de idade, foi vendida por seu primo a um bordel, onde foi repetidamente estuprada e forçada a anos de prostituição.
“Deram-lhe um copo de água e quando acordou estava a caminho do bordel”, disse Murata.
Embora esta pessoa, mais tarde, conseguisse escapar, seus captores tentaram silenciá-la, ameaçando prejudicar a ela e a sua família.
O Projeto Kamonohashi ajudou a vítima a abrir uma loja em sua aldeia, onde ela vende acessórios e cosméticos. Com a ajuda do grupo, ela agora está em busca de justiça no tribunal.
“Independentemente da decisão, esta mulher espera ajudar outras vítimas a lutar por seus direitos e aumentar a consciência dos riscos associados a ofertas de empregos bem remunerados”, disse Murata.
Ela acredita que uma mudança maior na sociedade é necessária para enfrentar a exploração sexual.
“Espero que (nossos esforços), eventualmente, venham a acabar com o tráfico de crianças para fins de exploração sexual, especialmente nas áreas em que tais casos são mais frequentes”, disse Murata.
Eventos-chave na vida de Murata:
- Abril de 2000 – Entra na Universidade Ferris em Yokohama; encontra-se com a Prêmio Nobel da Paz de 1997, Jody Williams.
- Agosto 2001 – Participa de um turismo de estudo para a Tailândia e Camboja, reúne-se com jovens vítimas de tráfico sexual.
- Julho de 2002 – co-funda o Projeto Kamonohashi e começa o programa de TI no Camboja.
- Dezembro de 2005 – Ganha o prêmio de liderança no evento “Mulheres do Ano 2006” da revista “Nikkei Woman Magazine”.
- Janeiro de 2007 – Lança a primeira fábrica comunitária do Camboja, na Província de Siem Reap.
- Novembro de 2007 – Reconhecida como uma das Dez Mais Jovens do Mundo em liderança e voluntariado pelo grupo internacional sem fins lucrativos Junior Chamber International.
- Junho de 2008 – Abre a segunda fábrica comunitária no Camboja, na Província de Siem Reap.
- Abril de 2009 – Recebe o prêmio 2008-2009 Making a Difference for Women Award da The Soroptimist Japan Foundation.
- Março de 2011 – Recebe o Japan Foundation Prize for Global Citizenship.
- Novembro de 2012 – lança o programa para vítimas de tráfico sexual na Índia, recebe o Prêmio Women’s Entrepreneur da Japan Chamber of Commerce and Industry Aid Association.
Fonte: The Japan Times http://www.japantimes.co.jp/news/2016/01/31/national/npo-founder-fights-reverse-plight-asia-child-sex-victims/#.Vq8cv1KiyyM
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